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Archive for the ‘Uncategorized’ Category

Por razões pessoais, e algumas felizmente que poucas profissionais, tive muito recentemente, e embora contrariado, atendendo a época invernal do ano, diga-se, que me deslocar a Portugal, local que não visitava a cerca de 2 anos, e que pude constatar continuar tão ou mais ainda mal frequentado do que a quando da minha ultima passagem pelo retângulo luso.

Chegado ao aeroporto, dito internacional, da Portela de Sacavem, e se ainda o apelido com essa denominação, é porque acho que ainda não lhe mudaram o nome como fizeram a tantas e tantas outras coisas e locais que pude ir verificando, meio embaralhado e até mesmo aparvalhado, o quão diferentes estão no tempo e no modo. Infelizmente para os portugueses sem grandes beneficios em termos de qualidade de vida.

Portugal não se aportuguesou, mas sim se aburguesou minoritariamente e  se prostituiu a tudo aquilo que os predestinados proxenetas da Europa entendem aqui-ali colocar, sem que para tal uma só voz se levante para contrariar a dominação dos estranjas. Veja-se que já nem o Algarve se denomina de Algarve, mas o chamam já de outra coisa inglesada para tentar vender a imagem… e só ainda não tem nada que ver com a nobre palavra “m****” porque poderia ofender os nobres cheiros do Tamisa… muito embora a qualidade da região esteja a cair a olhos vistos…

Mas dizia eu, que chegado ao tal dito cujo aeroporto, repito, também dito de internacional, e após cerca de 8 horas seguidas de voo, eis que fui presenteado, logo a chegada, não com uma exibição dos Pauliteiros de Miranda do Douro, ou um qualquer rancho  folclórico das Beiras, mas com uma verdadeira maratona de, e não querendo exagerar, uns bons 2 km, de labirínticos corredores até conseguir heroicamente chegar a zona de fronteira e recolha de bagagem. Digo eu, mas não posso esquecer os restantes companheiros de viagem a que nem sequer escaparam do suplicio os elementos da tripulação da TAP que por certo vão participar com muito êxito na próxima travessia do Tejo, tal o numero de vezes a que tem de se sujeitar a tamanha prova de esforço e gloria ao longo da sua carreira profissional.

Não sei, e muito menos, me, interessa, saber o nome com que batizaram a criatura de quem terá sido a superior sumidade aparvalhada de desenhar uma aberração tamanha. Não duvido que tenha sido de-formada em uma qualquer universidade independente de vão de escada, é que só de locais desses podem sair obras com o arrojo de tamanha ineficiência social, que só pode levar a que milhares de turistas procurem a muito curto prazo outros locais para correrem maratonas menos dolorosas dentro de um edifício que se queria simples e o mais funcional possível.

Quem obviamente aprovou a construção, isso todos sabemos, e tem que ver com largos interesses nos racios de custos de metro cubico de betão, mais alvenarias, menos ou mais cabo elétrico, mais ar condicionado com as centenas de metros de ligações e afins, mais… mais… da mesma roubalheira que já todos percebemos existir em quase cada esquina da sociedade portuguesa atual.

É um autentico fartar vilanagem!!!

Sacar enquanto podem…

Dizer ainda que os gastos com tamanha obra devem ter sido incomportáveis para o Orçamento Geral do Estado, e assim se pode verificar para onde esteve, e ainda esta, a ir o dinheiro dos impostos sacados  religiosamente aos portugueses, bem como para onde vai ter que ir o dinheiro a pagar a Comunidade Europeia, que embarca nestas aventuras quixotescas, porque obviamente existem muitas empresas engajadas politicamente no Parlamento Europeu e na Comissão Europeia, sempre interessadas em meter a colher nestas magnânimas obras.

Acho que José Manuel Durão Barroso vai passar a história não tanto como presidente da Comissão Europeia mas mais como mestre de cerimonias em namoros politicos e conhecido mestre de obras entre multinacionais da finança e do betão…

Posto isto, e muito ainda poderia referir para já não falar nos custos de manutenção do local, bem como a energia que se gasta em cada hora de iluminação artificial e funcionamento do ar condicionado ligado para manter o labiríntico corredor com ar… para alem da necessária limpeza,  manutenções variadas, etc… Quanto a divulgação de Portugal e das suas ainda existentes belezas naturais nem um simples cartaz a anunciar as festas da Senhora da Agonia… ou o concerto da fadista nacional do momento no Coliseu de Lisboa ou no caixote da musica do Porto.

Coisas que só acontecem em Portugal, o tal País governado de e para as bananas, que ainda se continua a achar o centro do universo!

Na realidade para quem não vive em Portugal, inebriado pelo jogo de luzes a que ficam expostos diariamente os residentes, e chegados aqui, percebemos que se trata hoje de uma simples terrinha cheia de gente com uma cara de susto, envelhecida precocemente, e entristecida, com os velhos sorrisos empenhados a alguns anos, e sem o mínimo de hipótese de serem recuperados ou hipotecados a melhor preço.

Portugal é hoje sim o tal País triste do fado… do triste destino… de tudo o que os poetas foram escrevendo, e os fadistas cantando, querendo expulsar nos maus destinos.

Só que o raio do destino de infortunio do tal povo triste e acabrunhado está mesmo lá no Portugal mais profundo que foram delapidando… já só resta simples cascalho!

Que pobreza franciscana… uns quantos – poucos – com tanto, e todos os outros – muito mais do que muitos – sem rigorosamente nada!

Mas o tal nada – absolutamente nada – ainda esta para vir com a chegada do fim dos fundos comunitários e a exigência do pagamento da extensa fatura de décadas de abusos políticos, sociais e econômicos.

Quando chegamos a dita fronteira de entrada no espaço europeu, deparamos com solícitos funcionários que olham para os passaportes como autentico porco a olhar para um colar de perolas, confrontando a cara da foto tridimensional com a realidade visível da criatura postada a sua frente. Dão duas passadas nas folhas para lá, e mais umas três para cá, e devolvem o passaporte sem ao menos aplicar um simples carimbo de confirmação de entrada na tal Europa que dizem esta cada vez mais blindada a entrada de ilegais e outras criaturas que vivem saltando de sociedade em sociedade buscando o almejado paraíso nunca descoberto.

Nas realidade, no que diz respeito a alguns turistas que comigo viajavam, pude verificar uma mais do que criteriosa aplicação das velhas leis do Reich, com apalpação, inquirição, e outras determinantes formas de compulsiva tentativa de fazer desistir o turista de uma estadia que se anunciava no mínimo agradável. Os que surgem a salto… todos sabemos quem quem são e quem facilita as suas entradas nas fronteiras. Não podem ser ingênuos a esse pontos meus Caros, pois é bem notorio onde esta uma prostituta, um vagabundo, etc…

Será então que alguma alma caridosa me pode explicar, mesmo que muito devagarinho, para que eu apesar das minhas limitações  de não residente tente entender, como alguém pode provar oficialmente que eu tenha chegado a Lisboa – Portugal – Europa, no dia 9 de Dezembro do ano da graça de 2010… bem que eu podia ter saído pela pista do aeroporto afora, e saltado a vedação lá para as bandas da praça do relógio, que lhes daria igual. Não existe registro nem a mínima garantia de que um tal de José da Silva tenha realmente aterrado em Lisboa no voo TP0156, e ali tenha efetivamente desembarcado.

De facto desembarquei, passei a fronteira de entrada, estive na Europa até ao dia 20, mas no meu passaporte ninguém pode provar que tal tenha acontecido, pois apenas existe registo de saída do Brasil e reentrada. Vai dai, quem sabe eu tenha cometido um lapso, e por mero engano não tenha apanhado um voo para Lisboa – Portugal e sim para Marte… ou será que fui aqui ao lado ao Paraguay passando a fronteira na ponte da amizade…

A minha duvida se acentua cada vez mais, depois de ter podido ver in-loco a sociedade de marcianos em que transformaram o País a que alguns ainda chamam de Portugal.

Será que viajei a Marte num voo da TAP e a minha agencia de viagens não me avisou de nada!!!

“João Massapina”

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Em Portugal, nos dias de hoje, e para além das inúmeras empresas que encerram as suas portas, e onde o trabalhador não tem o mínimo de chance de defesa em relação ao seu ganha-pão, temos o continuado surgimento de ajudas subsidiarias do tipo subsidio de desemprego ou rendimento mínimo garantido e que são sinônimo direto de aumento exponencial da classe dos parasitas.

Não que estar desempregado signifique por si só a existência em cada português de um parasita, mas com essa tal almofada protetora, de nada serve incentivar a manutenção de postos de trabalho, pois existe muito bom cidadão que até pagaria de bom grado do seu bolso uns euros extra para que no final do mês o patrão o dispense para dessa generosa oferta poder retirar a tão saborosa passagem as férias protegidas…

São estes autênticos ‘sarnosos’; aquilo que eu considero autenticas toupeiras, que escavam túneis e mais túneis de objetivação serôdia nas costas do comum contribuinte, do trabalhador leal e cumpridor de todos os seus deveres para com a Nação e os seus concidadãos.

O tal Estado protetor, qual mãe sem suficientes tetas para tanto cretino que as quer chupar, ainda assim cria mais mecanismos para dilatar a despesa publica, como é um bom, mau, exemplo as “Novas Oportunidades” que de oportunidade só tem mesmo o nome pois que; tentar transformar burros lazarentos em doutores da mula ruça é coisa digna de santo milagreiro.

Olhando para o subsidio de desemprego, e o seu aproveitamento por certas criaturas, podemos ter uma certeza absoluta de oportunismo social, vinculado no poupar no almoço fora de casa, nas mensalidades de creches e jardins de infância dos filhos e ainda poupar nas deslocações para o tal local de trabalho que era chato a beça, e que em casa se esta muito melhor… e com um rendimento garantido… até quando…

Recordo que nos primeiros tempos de Cavaco Silva como 1º Ministro, a crise era também enorme ao nível de emprego, falo obviamente de 1987 e por ai…, quando os Centros de Emprego tinha contentores de gente inscrita no famoso código 9-99-01, que significava pouca formação técnica ou instrução ao nível escolar. Mesmo assim, existia um esforço para colocar todo esse exercito no mercado de trabalho efetivo, com programas específicos para atender as necessidades, e as coisa foram sendo alteradas, graças também a uma vigilância cuidada por parte da Segurança Social que em caso de continuadas recusas nas ofertas de trabalho, pura e simplesmente cortava os subsídios.

E hoje o que vai acontecendo com essas recusas?

Ninguém sabe ao certo, mas o que se sabe é que o exercito de desempregados inscritos e a receber o tal subsidio de desemprego e o rendimento mínimo garantido não para de crescer de dia para dia.

Mas não se entenda, pelo agora descrito, que o subsídio de desemprego é um valor imenso. O problema está nos salários serem muito baixos. Mas como grão a grão enche a galinha o papo, esse valor todo somado acaba por constituir um valor astronômico no contexto da despesa nacional.

Em muitos casos e para trabalhadores que auferem salários inferiores a 1000,00 €, e que são em Portugal a esmagadora maioria, é muito mais compensador passar a receber o subsídio de desemprego, ou o RMG vivendo em casa, do que aceitar uma oferta de trabalho pouco remunerada e muito cansativa.

E viva assim o capitalismo das toupeiras no Estado Social que embora em manifesta ruptura lá vai ainda dando para manter os ideais de nada fazer e bem viver a custa de uns quantos!!!

Até quando camarada!!!

“João Massapina”

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Era noite, a Avenida Epitácio Pessoa e o busto de Tamandaré, em João Pessoa, tomados por uma multidão. Carros nas ruas, fogos no céu e uma perspectiva de mudança, de união nos olhos e na atitude de cada um dos paraibanos que ali estavam. Para muitos, aquele momento marcou o fim de um ciclo político que durou 12 anos na Paraíba. A vitória de Ricardo Coutinho (PSB) encerrou uma disputa acirrada entre dois grupos, polarizados por duas famílias: de um lado Cunha Lima e de outro Maranhão.
A história se encerra com a lembrança de uma noite em que ficou marcado o rompimento político dos dois grupos, onde o principal perdedor foi o PMDB e, consequentemente, a Paraíba. A noite da festa do Campestre, em Campina Grande, ressurgiu na memória de muitos políticos logo após serem abertas as urnas no último dia 31 de outubro. Encerrava-se ali uma briga marcada por perseguições e prejuízos ao Estado.
“A Paraíba fecha um ciclo político e inicia uma nova fase de prosperidade e desenvolvimento. A vitória de Ricardo mostra que os paraibanos estavam cansados de perseguições e dessa briga que não nos levava a lugar algum”, disse o ex-governador e senador eleito Cássio Cunha Lima (PSDB).
Rompimento em uma noite de festa
Segundo o historiador José Octávio de Arruda e Melo, no livro “Conflitos e Convergências nas eleições paraibanas de 1982, 2002 e 2006″, era 21 de março de 1998 dia do aniversário do então senador peemedebista Ronaldo Cunha Lima. As mais de duas mil pessoas nunca imaginavam que, além da festa, iriam presenciar o rompimento público de Ronaldo e José Maranhão levando um partido que, esgotado o ciclo militar em 1985, tornou-se dominante, na Paraíba, ao eleger governadores, senadores, a maioria das bancadas federal e estadual em 1986, 1990 e 1994, além das prefeituras das principais cidades paraibanas.
O historiador lembra ainda que desde então, o processo eleitoral do estado, destacadamente a corrida pelo Palácio da Redenção, passou a figurar como reedição da disputa extravasada naquele terceiro sábado de março. “Essa separação não fracionava apenas um partido, mas a sociedade inteira, onde as diversas instituições – Ordem dos Advogados do Brasil, Associação Paraibana de Imprensa, federações de futebol e carnavalesca, empresariado, intelectuais, universidades e partidos – despontavam rachadas entre os grupos do ‘M’ (Maranhão) e do ‘R’ (Ronaldo)”, escreveu José Octávio.
Derrota na convenção e vitória em 2006
Logo após o racha no PMDB, os dois grupos se confrontaram na Convenção que iria indicar quem seria o candidato ao Governo do Estado. Ronaldo saiu derrotado e resolveu migrar para o PSDB levando com ele, além de Cássio, um grupo importante de políticos, a exemplo do senador Cícero Lucena. Depois da vitória da Convenção, José Maranhão se reelege governador da Paraíba.
As brigas não pararam por aí. Quatro anos mais tarde, sem ter um nome forte para enfrentar Cássio Cunha Lima que tinha realizado um bom trabalho na Prefeitura de Campina Grande, Maranhão indica o vice-governador da época, Roberto Paulino, para disputar o Governo do Estado. Apesar do favoritismo de Cássio, Paulino cresceu e levou a disputa para o segundo turno. Apesar disso, Cássio foi eleito e empatou a disputa com Maranhão.
Em 2006, os paraibanos presenciam mais uma briga polarizada entre Maranhão e Cássio. Nessa disputa, os Cunha Lima saem novamente vitoriosos depois de um segundo turno em que a Paraíba nunca mais esqueceu. Anos mais tarde, Cássio foi surpreendido com a cassação do seu mandato pelo Tribunal Superior Eleitoral (TRE) e posteriormente pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). E com isso, Maranhão é novamente reconduzido ao governo em um ano pré-eleitoral o que garantiu ao governador disputar a eleição no cargo de governador.
2010 marca a quebra da hegemonia
“Cassistas” e “Maranhistas”, como ficaram conhecidos os dois grupos políticos, voltariam a novamente se enfrentar, mas os Cunha Lima optaram em apoiar um outro candidato que não fosse do grupo o que causou divergência e um racha no PSDB paraibano. O nome mais cotado, que era do senador Cícero Lucena, foi substituído pelo do então prefeito de João Pessoa, Ricardo Coutinho. Era o início de uma nova possibilidade da Paraíba ser governada por uma terceira força política que não tivesse raízes profundas com Maranhão e nem com os Cunha Lima.
“Com essa vitória, a Paraíba vira a última página e fecha um livro. Os paraibanos agora viverão novos tempos, tempos de paz, união e prosperidade. O nosso povo não agüentava mais tantas brigas onde o prejudicado era apenas o nosso Estado. Novos tempos virão”, disse Cássio logo após o encerramento do processo eleitoral que declarou Ricardo Coutinho como o novo Governador do Estado.
Para o governador eleito Ricardo Coutinho, apesar de ter em dois momentos recebido apoio de José Maranhão e Cássio Cunha Lima, seu projeto político representa o fim de um ciclo de brigas. Durante toda a campanha o socialista pregou o fim das brigas e a paz entre os paraibanos e políticos. “Precisamos olhar para o futuro e não para o passado. A Paraíba é maior do que as brigas e merece crescer sem ódio”, frisou.
Mesmo com derrota, Maranhão não desiste da vida pública
Passado as eleições, o governador José Maranhão deixou claro que apesar da derrota no último dia 31 de outubro, não pretende abandonar a vida pública, mas apesar disso a noite do Campestre estará de certa forma esquecida já que o seu principal adversário agora será Ricardo Coutinho. Muitos correligionários acreditam que o peemedebista voltará a cena como candidato a prefeito de João Pessoa.
“Mas nossa história não termina aqui. Temos compromisso com esse projeto que foi construído em mais de 50 anos de trabalho. Ficará também na memória dos paraibanos que um grupo político que foi forjado na luta, que tinha acima de tudo ideais, conseguiu entrar e sair de forma digna, em todas as oportunidades que esteve a frente do Governo da Paraíba”, disse o governador José Maranhão.
Cientista diz que vitória de Ricardo fecha ciclo de 12 anos
Para o professor e cientista político, Luiz Ernani, a Paraíba fecha um ciclo político com a vitória de Ricardo Coutinho para o Governo do Estado. Segundo ele, apesar do governador José Maranhão e do senador Cássio Cunha Lima ainda continuarem representando forças políticas importantes na Paraíba, não terão mais influência na administração estadual e se tornarão forças individuais.
“A Paraíba fecha, sem dúvida, um ciclo político que durou 12 anos na Paraíba. Maranhão e Cássio continuarão líderes, mas representarão forças isoladas. Já Ricardo Coutinho representa para a população a nova Paraíba e sem dúvida terá a chance de despontar como a mais nova força política do nosso estado, renovando assim, um período predominado por duas famílias que se revezavam no poder”, finalizou.

“Marconi”

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AGUA DOCE

A água do rio é doce.

Carece de sal, carece de onda.

A água do rio carece da vândala violência do mar.

A água do rio é mansa sem a ameaça constante das vagas sem a baba de espumas brabas.

A água do rio é mansa mas também se zanga.

Tem banzeiro, enchente correnteza e repiquete.

Pressa de corredeira sobressalto de cachoeira traição de redemoinho.

A água do rio é mansa corre em leito estreito…

Mas também transborda e inunda também é vasta, também é funda também arrasta, também mata.

Afoga quem não sabe nadar.

Enrola quem não sabe remar.

A água do rio é doce mas também sabe lutar.

A água doce na pororoca enfrenta e afronta o mar.

Filha de olho d’água e de chuva neta de neve e de nuvem a água doce é pura mas também se mistura.

Tem água cor de café tem água cor de cajá tem água cor de garapa tem água que nem guaraná.

A água doce do rio não tem baleia nem tubarão tem jacaré, candirú, piranha puraquê e não sei mais o quê.

A água doce não é tão doce.

Antes fosse.

‘Astrid Cabral’

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Diante da impossibilidade de conseguir acertar sempre nas opiniões formadas apenas com base numa; simples primeira análise, foi procurar ser, ao máximo, o menos politicamente incorreto no trato da imagem pessoal de certas pessoas, mas claro que todos nós temos o direito de errar, porque isso de errar é humano. Foi o que me aconteceu com larga maioria das pessoas que fui conhecendo ao longo da minha passagem pelo chamado aquário democrata cristão, e logo eu um peixe ateu convicto, analisei de modo muito superficial, o que me obrigou a ter que mais tarde refazer totalmente as minhas primeiras leituras, de analise pessoal.

No esforço por me tentar comportar direitinho comecei a abolir um pouco a minha imagem de marca de batalhador e frontal, por vezes até demasiado para além do razoável. Mas tem sempre alguém que felizmente nos consegue fazer entender pelas suas atitudes ou métodos que devemos continuar a ser aquilo que realmente sempre fomos, para que as aparentes simples dificuldades não se instalem e acabem por transformar em problemas enormes.

Muito rapidamente consegui entender que o CDS/PP vivia na base da chamada política pé de chinelo, querendo criar uma imagem aparentemente de partido de agenda que trabalha em cima do joelho e que dessa forma vem encontrando serias dificuldades para se conseguir instalar de modo consistente na política local e nacional.

O CDS/PP onde eu entrei era um partido dominado pelo cinismo e por um amalgama de castas que tinham no cimo das suas diversas pirâmides internas, as chamadas figurinhas carimbadas, com o claro intuito de dominar setores e com esse seu poder aparente conseguirem manter-se á tona de água dentro do aquário do poder.

No distrito de Setúbal a casta predominante era naquela época dominada por um descendente de judeus, e que fique desde já bem claro que nada tenho de anti-semita, antes pelo contrário. Mas com Krus Abecassis, que com a falta de espaço político na sua reta final de carreira, tentava manter o seu espaço de influencia á custa da dominação política no distrito, eu realmente não posso ter qualquer contemplação pessoal.

Para conseguir manter essa sua realidade temporal, organizava pequenos clãs de indefectíveis que de um modo subserviente lhe iam tentando controlar o território. Ao mesmo tempo iam abanando a cabeça em sinal de assentimento perante tudo o que lhes era questionado, ou solicitado, assim acontecia com a mãe e filha que dominavam Santiago do Cacém, com alguns elementos de Setúbal, Seixal, Montijo, Moita e, sobretudo; com o seu fiel “cão de guarda”, o Delegado Distrital de Setúbal Fernando Belo, que ia tentando controlar todos os outros “Kromos” que estavam espalhados um pouco por todo o distrito, e que na sua maioria mais pareciam saídos de um; qualquer filme de animação.

Nessa época, Carlos Dantas, era o “Kromo” do Barreiro, que ambicionava á muito deixar de o ser, e queria transformar-se em Presidente da Distrital. No entanto o líder da casta dominante entendia ser fundamental conseguir manter as estruturas dos concelhos inativas e assim poder continuar a controlar o poder sem necessidade de se expor a riscos desnecessários ou ter que submeter o seu representante a eleições, que lhe poderiam ser bastante adversas.

Por isso as primeiras impressões por vezes enganam, e só mesmo passado algum tempo se podem criar opiniões consistentes, digo isso entre outros; relativamente ao individuo Carlos Dantas.

Assim, quando fui convidado a organizar a estrutura da Concelhia do Barreiro, desde logo o importante para mim era conhecer com quem lidava e então consegui marcar uma serie de iniciativas, para dessa forma, conseguir trazer o senhor Engenheiro Kruz Abecassis ao Barreiro, para dessa forma tentar conseguir saber o que ele afinal também pretendia. Ele acabou por aceder porque também ele queria saber quais eram as minhas intenções.

Foi assim como uma chamada marcação á zona, homem a homem, palmo a palmo, em que um observava atentamente qual a estratégia do outro.

Foi muito cordial esse nosso primeiro encontro, em que lhe possibilitei uma visita à Santa Casa da Misericórdia, aos Bombeiros Voluntários do Barreiro, Corpo de Salvação Publica, ainda nessa época instalados nas suas; velhas e muito deterioradas instalações, ali junto da sede do Luso Futebol Clube, no chamado Barreiro velho. Uma visita á Quimigal, com uma reunião com o Conselho de Administração, e até a uma audiência privada nossa com o Presidente da Câmara Municipal do Barreiro, nessa época o Dr. Pedro Canário. No final do dia ainda lhe promovi um jantar com militantes, melhor dizendo com larga maioria de novos militantes que eu tinha conseguido já trazer para o partido sem sequer ser eu próprio ainda militante naquela época.

Durante o desenrolar do dia, ao longo das visitas e no decorrer do jantar, desde logo entendi que aquele “Judeu” estava muito pouco interessado na implantação de uma estrutura concelhia do partido no Barreiro. E muito menos estava interessado na possibilidade da realização a curto prazo de eleições distritais, e muito menos ainda tinha criado alguma empatia comigo, pois me via como uma muito seria ameaça ás suas idéias de ascendente sobre o distrito de Setúbal.

Foi assim iniciada uma relação de aproximação do mais hipócrita que se possa imaginar, entre um Cristão de Bíblia e um Ateu puro e duro, e como eu detesto hipocrisia, estava certo que seria somente uma questão de tempo, até que eu terminasse com a encenação.

Respeitando a sua memória, não posso, no entanto; deixar de dizer que tive a nítida sensação, nesse dia, de ter acabado de conhecer um “Capo da Máfia á Portuguesa”, tal o modo como se movimentava e falava tudo mecanicamente articulado e pré-pensado, e isso não tinha nada que ver com o seu já visível e impossível de esconder; Alzaimer.

Até a forma de se transportar era feita como a tradicional entrada e saída de um mafioso, de um local publico, para não se fazer notar no meio da multidão. Entrava antecipadamente o motorista e segurança, verificava o local, e somente era liberada a sua entrada. A saída era feita de molde a evitar quaisquer surpresas no exterior.

Essa minha, muito má impressão inicial, sobre aquela personagem que tinha fama de bom gestor, enquanto Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, mas que na realidade foi; um dos responsáveis direto e indireto, entre outras coisas importantes da cidade, pela destruição do Chiado naquele fatídico dia 25 de Agosto. E tudo apenas porque a sua teimosia em termos de segurança publica, acabou por deixar as ruas da zona da Baixa Chiado, sem entradas rápidas para as viaturas de emergência. Essa minha imagem pessoal negativa nunca melhorou ao longo do tempo, muito pelo contrario, só se foi agravando com o passar do tempo, chegando a uma situação limite de ruptura e confronto político total.

No então isso não impediu de forma alguma que se prosseguisse com o trabalho político já iniciado no Barreiro. Muito para além do nosso conhecimento de que já tinha sido injetado um personagem para fazer o trabalho de controle concelhio para o Delegado Distrital. Essa figura apareceu do dia para a noite, vindo do nada, era o Sr. Pedro Estadão, uma personagem algo sinistra, com olhar de louco, e modos a fazer lembrar os antigos agentes das SS Nazi-fascistas, só lhe faltando a indumentária apropriada, pois que o restante estava lá todo, e bem visível, nos seus modos e formas de estar.

Os seus objetivos eram indisfarçáveis e desde logo conseguiu entrar em choque direto com o Carlos Dantas e o Luis Pires, as pessoas que até aí, mal ou bem, tinham dado a cara pelo partido no concelho do Barreiro.

Obviamente que logo em seguida entrou em choque também comigo, ou melhor; dizendo, o choque foi simultâneo. Ao ser convidado de um modo afável para participar em reuniões de reflexão sobre a situação do partido no concelho, e que nessa época se realizavam em casa da Drª Fátima Craboila.

Realmente ele comparecia ás reuniões sempre muito bem acompanhado pela namorada da época, e atual Juíza Do Ministério Público, e sempre a meu convite pessoal; na minha tentativa de verificar; e confirmar o que afinal ia dentro daquela cabeça, mas cedo se pode confirmar que somente compareciam para tumultuar as mesmas, com opiniões disparatadas e totalmente fora do contexto das discussões, como que a provocar a perda de tempo, em longas analises totalmente estéreis e sobre assuntos sem o mínimo de cabimento político ou social.

Para mim, mais pareciam crianças, querendo brincar de políticos juvenis.

Mas esses tempos não foram só de política pura e dura, deixaram ainda espaço para um bom relacionamento pessoal e intimo com a Fátima, uma professora de historia que tinha um trauma tremendo, pois tinha sido deixada pelo noivo, no altar no dia do próprio casamento. Esse trauma conduziu a um constante temor, que eu da melhor das formas, tentei anular, passando bons e agradáveis momentos na sua companhia.

Em termos políticos surge nessa época o primeiro grande acontecimento deveras intrigante. Quando tentei efetivar a minha inscrição no partido, a mesma foi recusada, sem qualquer explicação para o fato. Foi simplesmente recusada, e como o Delegado Distrital tinha esse poder pessoal discricionário, eu aceitei perfeitamente, ficando desde logo de pé atrás perante aquela criatura. Somente algum tempo mais tarde vim a conhecer pessoalmente o espécime raro, e á constatar ser uma pessoa temerosa, muito efeminada e claramente com aparência e tendências pró-homossexuais, bem assim como o presidente da JC daquela época, um jovem de Sesimbra a que só faltava vestir um vestidinho para se parecer com uma senhora.

O partido estava no Distrito de Setúbal, claramente entregue ao loby gay, e tudo o que fosse contra isso era por eles considerado contra natura.

Nunca nada tive contra as opções sexuais de cada um, embora entenda que as mesmas devem ser assumidas e em termos políticos, uma coisa nada deve ter que ver diretamente com a outra, o que no, entanto; visivelmente não acontecia naquele caso concreto.

A minha militância política anterior não me tinha permitido nunca verificar a existência de um grupo tão estranho em termos de movimento pessoal, como o que vim encontrar no CDS/PP.

Ao longo do tempo acabei por ficar sempre na duvida sobre os chamados jogos de bastidores e com a nítida sensação de uma, certa; duplicidade de personalidade em termos sexuais de alguns personagens, a começar mesmo pelo mais tarde líder do partido, Dr. Paulo Portas.

Se por um lado era visível alguma objetividade hetero, tanto de alguns homens como mulheres, por outro eu sentia que se vivia uma segunda vida por parte de algumas pessoas, e ainda podia verificar a amigável mistura entre o chamado grupo dos “trombeiros” e os “gay’s” na sua maioria alegados bi-sexuais, não assumidos, que se queriam fazer passar por heterossexuais.

Era obvio para mim que o partido tinha naquela época uma elevada chama e influencia sexual, e um chamado loby gay dominante no seu interior, uma dominação que não mudou com o passar do tempo, apenas foi alterando os elementos, e como todos sabem esses grupos são corporativistas e unidos na defesa total dos seus membros.

O meu lugar, e o da própria Concelhia do Barreiro, dentro do partido, a nível pessoal não era de forma alguma dentro desses grupos sexuais corporativistas, por isso muitas vezes notava alguma reserva na formulação de alguns convites sociais á minha pessoa, e aos militantes que me acompanhavam.      

Decidi então apresentar a minha inscrição como militante na concelhia de Lisboa, e a mesma foi aprovada pelo Dr. Telmo Correia e pela Maria Orisia, que não conseguiam entender a razão do Delegado Distrital de Setúbal conseguir aprovar militantes por mim propostos e quando chegada a hora de me aprovar para militante, pura e simplesmente rejeitar a filiação.

Obviamente que a explicação tinha um nome, e esse nome era Krus Abecassis, e o resultado direto da sua visita ao Barreiro, e da analise que tinha feito ás reais possibilidades de ameaça de perda de influencia determinante na zona. Essa ameaça era realmente exata, uma vez que eu fazia questão de afirmar publicamente que em Setúbal deveriam mandar os de Setúbal, e nunca penetras externos enviados por Lisboa.

Passado algum tempo, solicitei a minha transferência para o Barreiro, e a Secretária-Geral da época, Drª Helena Santo, assim procedeu, para desespero do Delegado Distrital e claro também para o Delegado Concelhio, entretanto já nomeado e como seria de esperar, nem mais nem menos do que o Sr. Pedro Estadão. Foi assim bem visível a manobra de me tentar afastar da possível luta pela conquista imediata da Concelhia do Barreiro.

Depois de muitas confusões e excitações só já em pleno ano de 1997, a dois passos das eleições autárquicas, e com todo o nosso trabalho inviabilizado, é que finalmente se resolveram a marcar eleições para a Concelhia do Barreiro.

E se já nas eleições para Delegados ao Congresso Nacional, se tinham verificado muitas e variadas, estranhas ocorrências, então nas eleições concelhias foi o descalabro total. Neste ato eleitoral foi a confirmação de que a própria Secretária-Geral, Drª Helena Santo, estava deveras comprometida com todo aquele nebuloso e ilegal processo, e após várias manobras verdadeiramente infantis, a lista por nós apresentada e candidata á Presidência da Concelhia, e que ainda por cima nem tinha a minha presença, foi liminarmente rejeitada, sem se conseguir entender até hoje a razão de tal atitude, uma vez que ela cumpria todos os requisitos estatutários para poder ser sufragada. 

A Mesa Concelhia era dominada nessa época pela JC, através de Nuno Valente, que era nesse momento claramente afeta a Pedro Estadão, e que, portanto, manipulou de forma clara, inequívoca e obvia todo o processo pré-eleitoral, o que alias; mais tarde vieram a confirmar, na pessoa de Nuno Valente, meu Vice-Presidente numa das Comissões Políticas, por mim presididas, como tendo objetivamente acontecido, a mando de Krus Abecassis, e do seu capanga distrital Fernando Belo.

No entanto marcadas que estavam; as eleições, eu numa manobra puramente para envergonhar o partido, resolvi que uma vez que ninguém justificava a razão do afastamento da nossa lista candidata, mesmo assim iríamos a votos e para o efeito no mesmo dia, hora e local colocamos uma urna, para recolher os votos dos eleitores. Existia uma urna no interior do salão nobre e outra na entrada, na sede de os “Franceses”. Tudo foi feito o mais rigoroso possível com listagem de militantes, lista de presenças para descarga de votos e até uma acta foi lavrada no final dos trabalhos, após a contagem dos resultados.

Quando comparamos as votações o resultado foi de uma vitória nossa por expressivos 7 votos de diferença. A eleição da lista e eleição de Pedro Estadão era assim uma farsa e estava ferida de legalidade, uma vez que nos tinham impedido de concorrer livremente e com toda a legitimidade, e ainda por cima face ao resultado obtido se provava que nós tínhamos a legitimidade eleitoral de presidir á Comissão Política Concelhia.

Noutro qualquer partido, aquela situação ridícula, divulgada na comunicação social como inédita, teria merecido um outro, tipo de tratamento. No CDS/PP da época do Dr. Manuel Monteiro, com a Drª Helena Santo como Secretaria Geral, nada se veio a verificar, para além obviamente da chacota pública através da comunicação social, que aproveitou o fato para demonstrar a situação de falta de organização em que se encontrava o partido.

O Presidente do Partido estava num pedestal e pouco ou nada sabia da política efetiva local, mesmo com o facto pessoal de se deslocar várias vezes ao Barreiro, em visita familiar a sua avó. E tão pouco entendia o que seria melhor ou pior para o Partido no Concelho do Barreiro, embora tivesse sido um dos responsáveis da minha entrada no Partido, tal como o Dr. Gonçalo Ribeiro da Costa.

O seu destino estava assim prematuramente traçado, pois um líder de fachada, que desconhece a realidade do seu partido, que diz liderar, é sempre um líder a prazo, alguém em quem não se pode confiar. Como diria um famoso slogan de campanha: “Você compraria um automóvel a este homem?” a resposta só pode ser Não!

As eleições autárquicas foram assim o teste tanto para o Pedro Estadão como para o líder distrital e obviamente para o líder nacional do partido. O partido apresentou como candidato no Barreiro o farmacêutico Marcarenhas Neto, e não conseguiu sequer apresentar candidatos para todos os órgãos autárquicos, o que provou a falta de capacidade da estrutura política Concelhia, e da coordenação de Pedro Estadão.

Pior do que isso, o candidato era apontado como antigo legionário da PIDE/DGS, policia política do antigo regime, e o presidente do Partido nunca conseguiu terminar com essa terrível imagem negativa, esclarecendo a opinião publica, que na verdade não era bem assim, o que era contado pelos esquerdistas. Mais tarde, pude constatar, por documentos que me foram mostrados pelo referido candidato, que ele tinha efetivamente sido aceite como agente da PIDE/DGS, num concurso público, a que concorrera, pensando ir desempenhar funções numa outra atividade do Estado, uma vez que o edital de abertura não fazia referencia clara á PIDE/DGS. E que após a publicação do seu nome, e de ter constatado para o que realmente era a função final, de imediato recusou a investidura, sendo publicado; imediatamente, uma nova publicação com a sua exoneração, de um cargo que nunca sequer ocupou um minuto que fosse. 

Nenhum dos militantes por mim propostos aceitou candidatar-se, fosse ao que quer que fosse. O partido não conseguiu apresentar candidaturas a todos os órgãos autárquicos, e por outro lado os resultados finais foram paupérrimos para não os classificar de um autentico desastre, e para agravar ainda mais a situação a Comissão Política contraiu devidas financeiras para o partido que nunca veio a poder honrar na gestão de Pedro Estadão.

A nível nacional o resultado foi em tudo idêntico ao do Barreiro, e, entretanto; como se esperava o líder nacional, do alto do seu pedestal, estava a prazo, e pronto a cair em desgraça.

O congresso do CDS/PP em Coimbra marcou a arrancada para novos tempos no Partido, para a chamada era; Paulo Portas, e foi ai que aconteceu o primeiro confronto direto com Manuel Monteiro, na celebre cena do café de Manuel Monteiro, após a intervenção de Paulo Portas ter sido mais ovacionada do que a sua, que era a de um líder naquele momento.

Eu parti para Coimbra no dia anterior ao inicio do Congresso com a companhia de José Peleja no meu potente Alfa Romeu 33, e a velocidade era tanta, que na auto-estrada passamos a saída de Coimbra e acabamos por ter que sair em Aveiro e voltar para trás. Nessa correria louca consegui gastar um tanque completo de combustível desde a saída do Barreiro até chegar ao hotel a Coimbra, menos de 200 quilômetros.

Depois de devidamente instalados no Hotel, aproveitamos a primeira noite para jantar no Restaurante Alfredo’s e ir conhecer um pouco da cidade á noite. Iniciamos a visita por uma discoteca que nos tinham recomendado como a melhor de Coimbra, mas que era realmente tão boa que se encontrava deserta á hora a que por lá passamos.

Decididamente era a nossa noite de sorte, pois entramos no Bingo do centro da cidade, e em pouco tempo fizemos dois Bingos, e ainda por cima seguidos, o que deu para animar ainda mais a noite, que decorreu a correr tudo quanto era bar e boite, que nos fosse recomendada ou não.

No fim da madrugada, resolvemos ir comer algo, para depois se poder ir dormir um pouco, até á hora da chegada da restante comitiva e inicio dos trabalhos do congresso. Foi então que junto do quartel dos bombeiros voluntários, não muito longe do hotel onde estávamos instalados, um policia “bronco” a cair de bêbado, acho mesmo que tinha conseguido beber tanto ou mais do que nós os dois juntos, resolveu colocar-se em frente do carro em plena avenida, e querer inventar uma infração minha ao código da estrada.

Eu; como alias sempre acontece, não tenho grande paciência para aturar autoridades ou fardas, e muito menos para aturar bêbados fardados ou não. Resolvi desde logo, brincar um pouco com o infeliz, e assim para começar, ao avistar a sua figura no meio da avenida a cambalear, e ao mesmo tempo a mandar parar o carro, nem tive qualquer duvida em acelerar para cima dele e parar bem junto ao local para onde tinha saltado. Acabei por parar o carro bem no meio da avenida, sem encostar junto do passeio. Sai do carro para saber o que se passava, ele ficou deveras incomodado e como ainda por cima era “bimbo” daqueles que trocam os B’s pelos V’s, eu desde logo resolvi falar também á moda de (B)Viseu. Foi nesse momento o delírio para o alentejano, Zé Peleja, que não se conteve, e ria as gargalhadas. Depois pedi ao agente para ser ele mesmo a encostar o carro, por forma a não continuar no meio da via, e foi então nova risota, pois o policia ia mesmo fazer isso, estendendo a mão como se fosse para eu lhe dar a chave da viatura.

Por fim lá acalmou e viu que estava a cair no ridículo, então andou a ver se conseguia arranjar uma forma de me multar, arranjou a idéia de que eu tinha entrado em uma rua de sentido proibido no outro lado da avenida, claro que ainda hoje desconheço qual tinha sido a rua. Tínhamos descido toda a avenida desde o seu inicio, sem entrar em nenhuma rua transversal. Pediu então os meus documentos para proceder á emissão da multa. E eu sem problema algum estendi a carteira com tudo, ai foi mais um problema, pois quanto mais mexia na carteira menos conseguia distinguir ou encontrar os documentos. Ele achava notas, cartões de credito, mas dos documentos nada, e a situação cada vez se tornava mais ridícula, ao ver um agente da autoridade completamente ébrio a vasculhar a carteira de um cidadão em busca de documentos, eu pensava para mim: isto só filmado…

Eu finalmente lá tive um pouco de pena dele e acabei por lhe tirar a carteira das mãos e dar-lhe os documentos necessários. Quando ia passar a multa, nova desordem na sua cabeça, pois que a morada do seguro não era a mesma da carta de condução nem do registro de propriedade do carro e o bilhete de identidade tinha também dados que não coincidiam.

O homem ficou desesperado, com tantas moradas diferentes, e para mim isso sim, era uma infração, andar com os documentos desatualizados, em relação ao ultimo endereço, mas para ele o que contava mesmo era a possibilidade de poder passar a multa, fosse de que forma fosse, pois já estava a verificar que tinha caído no mais baixo em termos de ridículo.

A carta de condução estava ainda com a morada da casa dos meus pais, que; entretanto, já tinham falecido, e a casa já não era nossa pertença. O seguro da viatura estava ainda registrado com a indicação da minha antiga morada, e o registro de propriedade do automóvel, esse sim atualizado na minha morada correta do momento.

Foi uma risota geral, pois perante a pergunta dele, só poderia dar mesmo risota geral.

“Atão o senhor quer que amande a multa pra cal morada?”

Respondi na maior cara de pau do mundo:

“pois senhor guarda; escolha uma das três, a que lhe der menos trabalho a escrever, eu moro, ou morei nas três casas!”

Para culminar o hilariante cenário, ele nem sequer tinha algo com que escrever, e fui eu a retirar uma caneta do meu casaco e estender-lhe para que pudesse preencher o impresso de autuação. E ele não parava de referir: “mas que caneta chique… tem bom escrever…”

Nem sei qual a morada que colocou na multa. Por um lado recusei assinar o impresso, e por outro mal ele virou as costas nos fechamos o carro, entrando na pastelaria que ficava no outro lado da avenida, e fomos assim comer, e eu a primeira coisa que fiz foi colocar o impresso, copia, da multa que me tinha sido entregue, no primeiro receptáculo de lixo que encontrei.

Era uma situação mesmo para esquecer, e só recordar como imenso pagode.

Até hoje nada recebi em termos de multa de transito para pagar. E quando mais recentemente solicitei a verificação do meu cadastro, de transgressões viárias, o mesmo estava totalmente limpo, portanto, o policia ‘bêbado’, nem a multa deve ter conseguido passar corretamente. E por certo, com tanta emoção pela caneta que escrevi bem, e confusão com os diversos documentos e moradas, acho que pode até ter emitido uma multa a si próprio, alegando transgressão alcoólica de um agente da autoridade, sem autoridade nenhuma; diga-se.

As aventuras desse dia ainda não tinham acabado, pois o Zé Peleja resolveu comprar, entretanto; um Jornal local, e já no seu quarto, pegar no telefone e solicitar os serviços de uma massagista. Fazendo o pedido pelo telefone e de certa forma algo ébrio, imaginou que seria uma massagista para executar o trabalho que normalmente a maioria das massagistas que se divulgam em certas e determinadas páginas dos jornais executam.

Ás 7 horas da manha chegou á recepção do hotel uma massagista com destino ao quarto do Zé Peleja. Foi confirmado pela recepcionista o pedido, e subiu o elevador com destino ao quarto, só que ao abrir a porta o Zé Peleja diz que ia morrendo, era uma mulher com bem mais de 50 anos, feia como a noite dos trovões, e acompanhada por uma mala de material para executar mesmo a solicitada massagem.

Claro que a própria massagista se apercebeu da sua reação facial, e o pedido de massagem, mesmo massagem, foi prontamente dado como sem efeito, tendo ele obviamente pago o táxi de retorno da profissional de massagem tailandesa.

Ligou de pronto para o meu quarto para contar a aventura, eu ate me custava a acreditar no que estava escutando, mas do José Peleja, até ao dia de hoje, tudo pode acontecer, em termos de aventuras fora do comum. Com este mesmo José Peleja, já foi possível eu avançar num projeto de abertura de uma imobiliária, em Vila Real de Santo António, alugando loja, montando todos os equipamentos, tirando todas as licenças para a laboração desse tipo de comercio, e no final nem se chegar a abrir a firma, embalando os equipamentos, e entregando a loja ao dono.

Mesmo assim, com um trabalho tão rápido por parte da massagista, nos dias que permanecemos em Coimbra, e sempre que o Zé Peleja, solicitava a chave do seu quarto na recepção, ao dizer o numero do quarto todos os funcionários passavam a olhar para ele de imediato. Ficou tão incomodado com a situação que até chegou a pensar em mudar de hotel, eu, no entanto, para evitar esse constrangimento, passei a solicitar as duas chaves ao mesmo tempo.

No dia seguinte, chegaram o Luis Pires, Sidonio Sousa e a Fátima Craboila, e desde logo decidiram animar um pouco, tentando irritar o Peleja. Para isso, e sem ter muito nexo, começaram com um autentico jogo de futebol no corredor dos quartos, com as laranjas da fruteira do quarto do; Peleja.

Obviamente nasceu logo um atrito, de tal forma incontornável que dura até aos dias de hoje. É que muito embora o Peleja, não tenha comido qualquer fruta da sua cesta, instalada no quarto, a conta acabou por aparecer para ele pagar, pois a fruta apareceu destruída devido ao jogo de futebol.

Nessa mesma época eu vivia um relacionamento escaldante com Fátima Craboila, tão escaldante que nunca passou disso mesmo, antes que ateasse fogo mesmo, e eu me queimasse.    

Ela ainda se encontrava afetada psicologicamente com o casamento fracassado, acho que provavelmente ainda hoje se deve encontrar afetada, pois que essa frustração do altar nunca a deixava chegar a vias de fato, e com isso o nosso relacionamento não passava dos preliminares, o que me deixava deveras intrigado e claro numa muito má situação, quando excitado.

Essa situação aconteceu inúmeras vezes, e durante a nossa estadia em Coimbra, eu fixei como a data limite para entender a situação, e andar para a, frente com a relação ou terminar. Assim uma noite ela foi parar ao meu quaro e depois de muita curtição o mais que eu consegui foi colocar o espartilho á vista. Ao mesmo tempo; que ela própria, levava a que eu lhe produzisse orgasmos múltiplos apenas com a ação das minhas mãos na sua vagina e seios.

Eu acabei por ter orgasmos, devido á sua ação com as mãos, pois ela insistia só em masturbar-me, acho que era uma doença, essa sua apetência para esse tipo de caricia, mas daí não se passava de jeito algum, perante a sua tenaz resistência.

Entendi então que essa relação não seria para continuar, pois uma mulher, adulta, que andava comigo á meses, e que não passava o nosso relacionamento de masturbações mutuas, algo deveria ter de preocupante. Eu poderia ainda tentar investigar o que se passava na realidade, mas para mim ele deveria ser algo próximo de: frigida, ou estar a ter algum outro problema psicológico que eu muito sinceramente não conseguia entender, e por outro lado uma relação não pode ser só e exclusivamente sexo, mesmo que feito dessa forma tão artesanal.

Essa deslocação a Coimbra marcou também o fim desse relacionamento, seguindo a velha máxima do papagaio dos 4 F’s de um meu grande amigo de longa data:

“Se Fo…es Ficas, se não Fo…es Fora!”

Entretanto politicamente despontava um novo projeto político, no fundo o criador do projeto queria ser ele próprio a liderar o mesmo, e surge então o Dr. Paulo Portas. O Barreiro, nomeadamente o nosso grupo político, foi assim pioneiro, e por nosso intermédio o Barreiro tornou-se o primeiro Concelho do país a declarar apoiar publicamente a nível nacional, a nova candidatura á liderança, e a manifestar diretamente o apoio ao Dr. Paulo Portas como candidato a líder do partido.

O Dr. Manuel Monteiro acabou por não ter coragem de se voltar a candidatar á liderança do partido, lançando em nome do seu grupo político a doutora Maria Jose Nogueira Pinto, que foi copiosamente derrotada no Congresso de Braga.

Entretanto, no Barreiro o Sr. Pedro Estadão face ás suas inúmeras trapalhadas acabou por ficar isolado, e sem qualquer apoio militante. Até mesmo a JC lhe retirou o apoio e acabou por ser afastado por uma moção de liderança que eu próprio redigi e apresentei e que foi votada por unanimidade dos presentes em elevado numero. Grande número para a grandeza do partido naquela época, assim registraram-se; 51 votos a favor e nenhum contra, uma vez que após a apresentação e discussão da moção, o Sr. Pedro Estadão pura e simplesmente, num ato de pura cobardia, abandonou a sala, de acordo alias com as suas características já habituais em todas as suas atitudes. Seguidamente pediu a desfiliação do partido e inscreveu-se diretamente no Partido Socialista.

Ironicamente o Partido Socialista do Barreiro, é um verdadeiro asilo de recolha de deserdados de outros partidos, pois ao longo do tempo já vários são os exemplos, de que destaco alem dos por mim apontados ao longo desta minha narração, o senhor Julio Freire, vindo do Partido Comunista, ou alguns ex-militantes da rede terrorista FP/25 de Abril, como Amílcar Romano.

Imagine-se alguém deitar-se um dia como militante de um partido de direita e conseguir acordar no dia seguinte, como militante de um partido de esquerda, e logo ele, Pedro Estadão, que é, ou era, um apólogo da causa nazi-fascista, pois até festas de pendor nazi-fascista freqüentou; agora virar um militante incondicional de esquerda, as voltas que o mundo dá.

O Partido Socialista não tinha razão para duvidar das origens desse senhor, pois quando decidiu aderir ao novo partido o Julio Freire e o Carlos Pires militantes ativos do Partido Socialista, tinham manifestado muita curiosidade em saber da razão da sua saída do CDS/PP. E se no caso do Julio Freire, as suas raízes eram comunistas, já no caso do Carlos Pires que se siba a sua família navegou noutros tempos nas ondas da Ação Nacional Popular de Marcelo Caetano.

Após total esclarecimento e como continuassem a duvidar foi-lhe projetado, em casa do Julio Freire, um filme de uma festa nazi-fascista, em que ficaram deveras espantados com a presença nesse filme do Sr. Pedro Estadão em diversas manifestações de eloqüente apoio á causa do saudoso, para alguns, Adolfo, incluindo até farda e medalhas, para além da linguagem verbal e gestual. Apesar de tudo; acabou por ser admitido como Militante Socialista, e imagine-se vim a saber á dias que até apresentou uma candidatura para Presidente da Concelhia do Barreiro do Partido Socialista, que no entanto acabou por retirar, ao verificar que era popular demais para poder conseguir ser eleito Presidente, o que prova que o crime muitas vezes compensa, mas nem sempre…  

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Vida!…

Ai esta o tema, a razão de levar anos e anos a lutar, por educação, saúde, emprego, dinheiro, felicidade, e liberdade, e mais umas cem mil razões.

Eu nasci no século XX, um século traumatizado por duas guerras mundiais, com marcas profundas e determinantes de “social – nacionalismo”, com características de incontida dominação mundial, apoiada na invasão de nações, destruição de povos e culturas e lançamento de uma extensa sementeira de ódios e miséria social e temporal.

O mesmo se diga do ‘comunismo’ que se seguiu ao ‘social-nacionalismo’ como doutrina política da moda, e também nada de bom trouxe aos povos por ela dominados.

Foi no fundo o século do confronto direto entre essas duas ideologias dominantes, e das quais nenhuma, acabou por sair vencedora.

Em ambas, a segurança dos ditadores reside claramente na eliminação sistemática de todos quantos tomam a liberdade de pensar de forma contraria á ideologia dominante. Não amar e recusar o pensamento oposto consiste numa das formas mais abjetas da vivencia do ser humano, e foi precisamente isto que essas sociedades colocaram na primeira linha como imagem de marca.

Vem tudo isto a propósito; da minha atualidade de vida, e do que tenho oportunidade, de em pleno século XXI, ver e sentir um pouco por toda esta América Latina, onde hoje habito. 

Com o fim anunciado de uma longa ditadura de Fidel Castro em Cuba, já se estão a tentar formar outras, do mesmo estilo pró-esquerdista, como são os exemplos mais gritantes da Venezuela de Hugo Chaves, e a Bolívia de Evo Morales, entre outras.

Sim digo outras, porque outros populistas ainda ensaiam á sua maneira, o mesmo caminho, por vezes mais longo, tendo, um mesmo objetivo final em vista.

O próprio Brasil, que de democracia tem alguns pingos, mas que vive como Nação eivada de uma classe política de forma predominantemente corrupta, pode sofrer também essa tendência, se caminhar para um plebiscito para sufragar o eternizar do populista demagogo Lula no poder da Republica Federativa.

Mas nem só na política, temos que ter uma vivencia de acordo com a necessidade do propósito, do assumir a liberdade e conhecimento e as formas de convívio com os amigos, ou com outros indivíduos com formas de pensar e agir diferenciadas. A liberdade de cada um só começa no preciso instante em que acaba a dos outros e importa sempre saber respeitar todos os outros nas suas máximas diferenças.

Eu felizmente nasci fora das duas grandes guerras mundiais, em termos temporais e geográficos, mas num País que sem ter vivido internamente os dois conflitos de modo bélico, foi largamente influenciado por esses dois conflitos mundiais. Um País que passou por uma ditadura de certo modo com características profundamente de raiz fascista, sem cair na tentação da objetivação totalitária, muito embora de raízes profundamente influenciadas por um pensamento claramente nacionalista. Os maiores expoentes entre outros foram Oliveira Salazar, Cardeal Cerejeira e um dos mentores de tudo o que podia e não podia funcionar, um homem quase sempre na sombra chamado António Ferro. Desse trio de pensadores, acabaram por florescer pilares importantes, para a manutenção e o desenvolvimento da ideologia dita “salazarista” como a Mocidade Portuguesa e a Ação Nacional Popular, e o chamado orgulho da raça, para não esquecer uma das máximas do “Deus, Pátria e Família”.

Depois de 1974, com a chegada da Revolução, conheci um pouco do outro País, do outro Portugal, onde estavam a tentar impor o outro extremo da escala ditatorial, o totalitarismo apoiado no “comunismo” na sua forma mais primaria e destrutiva da sociedade. Nessa época eram exemplos, o combate a algumas liberdades, de que foi um bom exemplo a crise do Jornal Republica, e a clara libertinagem da ocupação da propriedade privada, em especial no Alentejo, bem como a absorção do sistema produtivo e industrial privado, numa clara tentativa de dominação de raiz proletária, que deu resultados desastrosos em Portugal, de todos conhecidos, e catastróficos  em alguns outros Países, que se deixaram emaranhar nessas doutrinas utópicas sem fundamentação realística, nomeadamente nas antigas colônias, e em várias Republicas do Leste Europeu.

Foi no choque claro e determinante dessas duas ideologias que se foi formando o meu pensamento social e político, acabando por nascer em mim um homem que racionalmente não é assumidamente nem de esquerda nem de direita, não sendo para todos os efeitos um centrista na verdadeira raiz da palavra: “centrista”.

Leio, observo sempre que possível no local, e retiro as minhas próprias conclusões de forma livre e objetiva, momento a momento, ato a ato, e sem ser um marginal do sistema político, assumo que possa de certa forma ser visto, por alguns como; um anarquista ideológico, que retira pontos positivos tanto á direita como á esquerda do sistema político.

Sei! Isso eu sei, e assumo que o sou, e sempre fui realmente polemico!

Tanto sou polemico a nível político como pessoal, pois não gosto nem admito no meu circulo de conhecimentos e convívio, quem faz dos mistérios a sua arama. É um direito meu, com uma liberdade total, liquida e cristalina o não gostar desse tipo de gente, ou de atitudes, talvez por isso mesmo seja como sou na política e Ateu na Religião.

Gosto de coisas claras, límpidas, cristalinas. Só admito os subterfúgios poéticos de Fernando Pessoa, em tudo o resto da minha vida, e em tudo o que gira em redor dela, exijo muita limpidez e frontalidade.

Nunca militei em partidos de esquerda, respeitando tudo quanto de bom podem ideologicamente poder comportar, nomeadamente na sua vertente social em algumas questões de primordial importância para a minha formação, sem entrar no apoio a determinadas utopias, verdadeiramente voltadas para políticas inconseqüentes.

Militei efetivamente em dois partidos, da chamada zona política do centro direita portuguesa, sem ser assumidamente de direita, mas continuando sempre a defender aquilo que considero em cada momento, o mais importante e fundamental para o País, e sem qualquer hipocrisia, obviamente, o que é mais importante, para aqueles que estimo, e amo, e para mim próprio enquanto cidadão.

A minha primeira filiação partidária foi na J.S.D., Juventude Social Democrata, e simultaneamente no P.P.D./P.S.D., Partido Popular Democrático/Partido Social Democrata, teve mais que ver com um sentimento de absoluta convicção ideológica, personificada numa figura que doutrinariamente tinha um rumo, um objetivo, bebido no que de mais avançado se tinha em termos de Social Democracia na Europa, o exemplo Sueco dos anos 60, 70 e 80.

Esse rumo, essa convicção transformista para um programa ideológico adaptado ás realidades do Portugal dos anos 70 e 80, e compactado num Partido, o PPD da época, liderado pelo Dr. Francisco Sá Carneiro, um conhecido Advogado do Porto, embora nascido no alto Minho, Barcelos, perto do berço de Portugal, era para mim; o espelho da necessidade social e política do Portugal daquela época. Esta situação acabou por ver todas as propostas pessoais e políticas do então líder, serem jogadas por terra, num acidente aéreo, que de acidente nada teve, e só mesmo a grande hipocrisia dos homens pode levar a essa simplista conclusão.

Francisco Sá Carneiro, na verdade foi, e com toda a certeza, assassinado no inicio dos anos 80, por representar uma clara ameaça para, um determinado Portugal, que sentia que uma nova era estava a nascer. Esse novo Portugal existia já, na sua cabeça e nas ambições desse grande artífice político.

Por outro lado, Adelino Amaro da Costa, havia descoberto um imenso escândalo, envolvendo comercio de armamento, e outras jogadas palacianas, envolvendo elementos ligados á extrema esquerda e também á estrema direita.

O País que esses dois gênios da política nacional imaginavam, era um País; á imagem de uma França, que eu conheci pela primeira vez em 1984, e que consegui ver e sentir como uma Nação 25 anos, pelo menos, avante de Portugal em termos sociais, ideológicos e políticos, e muitos anos mais á frente em termos de liberdade e de cultura, sem deixar de ser profundamente nacionalista.

Um País que mesmo em relação á Espanha, anteriormente atrasada, já começara naquela época a dar cartas a um Portugal que parecia parado no tempo.

Uma Itália que na zona Norte da Europa ficava a anos luz, para não falar de uma Suíça ou mesmo em termos comparativos específicos de uma Bélgica, ou até mesmo a Grécia e até mesmo a Turquia.

Aqueles meses na Europa, naquela Europa que me foi dado ver, naquela mesma Europa que hoje é parceira de Portugal na família atual da Comunidade. Nações para as quais Portugal, lamentavelmente, naqueles anos 80 podia ter apenas miragens.

Não posso afirmar que a culpa de toda aquela distancia que os meus olhos viam, era de um regime de quatro décadas de portões meio fechados, e costas voltadas para o mundo real, a que Salazar e os seus companheiros de regime, tinham conduzido Portugal.

No entanto, o meu sentimento perante os fatos concretos que podia observar, era que: A esquerda, existente em Portugal, nos anos 70 e 80, não queria muito progresso. Falava muito, diria eu, “berrava” e gritava muito, sobre a importância do social, mas isso era só ruído de fundo, estava somente transformada isso sim, numa imensa maquina política de caça a privilégios e “tachos”.

Aquele Partido Socialista que Mario Soares acabava de deixar, para se tornar candidato a Presidente da Republica era um ninho de interesses, espalhados um pouco por toda a máquina governativa.

Soares e os seus bons rapazes, como que sufocaram os Ministérios de “boys”, tentando dessa forma; controlar a maquina governamental ao nível ministerial. Imaginaram eles, á boa maneira soviética, que ao controlarem os Ministérios nos níveis médios e inferiores, controlariam eleitoralmente o País, nada, porém de mais errado. O povo não se comporta como mero “cão de fila” ou “pau mandado”. O povo altera a sua forma de estar e pensar de acordo com o volume de notas que lhe entram e saem mensalmente da carteira, e o Partido Socialista, para alimentar o “monstro” imenso, que pariu com a proliferação de empregos e mais empregos espalhados pelos Ministérios, teve que criar ao mesmo tempo alimentação orçamental, através da criação de impostos. Para conseguir manter a maquina alimentada salarialmente, e minimamente operacional, ainda teve que gerar mais impostos, e isso acabou por criar-lhe anti-corpos á sua governação, por parte daqueles  mesmos que tinha andado a espalhar pelos gabinetes e repartições, pois não se podia subjugar a população com a criação de novos impostos, todos os dias, para sustentar um autentico “monstro”.

São estes anos, desde a morte de Francisco Sá Carneiro. A derrota presidencial do candidato Soares Carneiro, frente a Ramalho Eanes, e a criação entretanto do chamado Partido Presidencialista, o P.R.D. – Partido Renovador Democrático, criado á imagem de Eanes, e a manutenção de Mario Soares e das suas políticas, como Primeiro Ministro, que contribuíram, conjuntamente com a “badernice” da gestão dos anos 70 pela esquerda totalitária, para o nascimento e crescente aumento de funcionários em alguns Ministérios, e a carência humana em outros, chegando ao estado comatoso da função publica e do Estado nos dias de hoje.

Este processo não se desenvolve de um dia para o outro, leva anos e anos, tal como uma doença crônica, e para tentar corrigir este processo, vão ser necessários ainda mais anos, e muitos sacrifícios pessoais.

Como a criação de pólos eleitorais nos Ministérios, parecia ser inicialmente, em termos eleitorais, uma medida muito útil e boa. Assim o poder local resolveu imitar o poder central, e encher também os diversos órgãos autárquicos de funcionários, e ainda de mais funcionários. O resultado dessa atitude, também esta hoje já á vista um pouco por todo o País, com os Municípios enterrados em dividas e compromissos bancários, e na sua maioria com cerca de 50%, ou em alguns casos mais das suas receitas destinadas exclusivamente ao pagamento de honorários de pessoal. Criaram assim compromissos bancários ao longo do tempo, para poderem investir na melhoria da qualidade de vida das suas populações, uma vez que o restante das verbas se destina ao pagamento exclusivo de funcionários.

Hoje a maioria das autarquias e ministérios, emagrece a carga de honorários, recorrendo a uma política de corte no numero de funcionários e a chamada contratação externa de alguns serviços, só que esta estratégia vai custar anos de imobilismo, porque para além dos compromissos já assumidos, o Estado tem compromissos financeiros com a banca que vai ter que honrar, em muitos casos esses compromissos são de dezenas e dezenas de anos. Ficam assim gerações empenhadas em pagar os erros que outras resolveram cometer, muitas vezes inconscientemente, mas na sua maioria pela mão de gestores que mesmo conscientes dos seus graves erros continuaram a cometer e em alguns casos a agravar situações já de si bastante graves.

Veja-se o caso concreto da Câmara do Barreiro, em que um dos grandes responsáveis do grave empenhamento financeiro ao longo de anos e anos foi Julio Freire, devido à sua falta de capacidade de gestão, á sua visível incompetência bem patente em casos concretos como os TCB’s e as águas, com custos incalculáveis para o município. Hoje essa mesma personagem esta a liderar um processo de incompetência praticamente igual na Santa Casa da Misericórdia do Barreiro, com a criação de investimentos desordenados e sem fundamentação financeira. Quando terminar o seu “reinado” quem vier atrás de si, vai ter anos e anos de compromissos para pagar, arranjados por esse verdadeiro incompetente que se arma em gestor.

É neste tipo de imagem de autentico caos, com inúmeros alegados gestores a criarem dividas injustificáveis, que regresso a Portugal, no meio da década de 80, depois de dois anos passados na Europa, com extensas viagens, e com a análise da muito maior evolução estrangeira, e das novas formas de rigorosa gestão, tendo em vista a qualidade das sociedades.

Decido então que as idéias programáticas do PPD/PSD, ainda eram ainda para mim, como que a matriz programática que poderia ajudar a solucionar algo no País. Todo o ideário legado por Francisco Sá Carneiro, e essa mesma matriz estavam para mim perfeitamente atualizados, e se aplicados ainda a Portugal, essas idéias e projetos, poderiam mudar algo e contribuir para fazer de Portugal um País bem diferente, mais social, mais equilibrado e mais próximo da Europa, a tal Europa que eu tivera oportunidade de conhecer pessoalmente.

A derrota de Diogo Freitas do Amaral, nas eleições presidenciais, contra a candidatura de Mario Soares, por uma percentagem mínima, mostrou um País profundamente dividido.

O pensamento político e social, do, á época, ainda jovem líder do PPD/PSD, Aníbal Cavaco Silva, que tinha trabalhado como Ministro das Finanças, num governo da AD – Aliança Democrática de Francisco Sá Carneiro. E que por sua vez tinha diretamente bebido muito do seu saber e ideais, para além de conhecer os projetos que tinha deixado por terminar, foram determinantes para o preenchimento da minha ficha de adesão como Militante da JSD e do PPD/PSD.

No fundo o meu primeiro ato político havia sido o ter assumido a representação, numa mesa eleitoral, da candidatura de Diogo Freitas do Amaral, pior que isso eu tinha conseguido levar a minha mãe a assumir também o apoio aquela candidatura de ruptura com o presente e o passado de Portugal. E ela própria esteve também numa mesa eleitoral, assumindo como delegada representante da candidatura da AD, nessa altura batizada de “Viva Portugal”, e assim aconteceu tanto na primeira como na segunda volta dessas eleições.

Para um jornalista, como na época eu era, foi o assumir, até mesmo a nível familiar, que as minhas, e nossas, idéias, o nosso pensamento político e social, navegavam em águas bem diferentes das da maioria local, que era por larga maioria ‘comunista’. Mas claro que isso não era já surpresa ou segredo para eles, pois os meus artigos jornalísticos eram muito claros e transparentes em termos da definição do meu pensamento político e social.

Por outro lado eu que sempre usara da palavra em Assembleias Estudantis e Clubisticas, descobri que na verdade em termos de oratória, embora não fosse nenhum tribuno de encher a praça, como costuma dizer-se, também não deixava ficar nada mal os meus créditos, fosse que opção fosse, perante uma platéia.

A diferença era nula, e apenas tinha que continuar a assumir, defender e transmitir, olhos nos olhos, da platéia as minhas idéias sem alterar nada da minha forma de ser e estar na vida, sempre frontal e irreverente, mesmo perante platéias adversas, como aquelas onde eu adorava usar da palavra, para sentir a capacidade de conseguir calar um auditório e de ao mesmo tempo, ter a capacidade de o conseguir virar, tornado uma platéia inicialmente adversa para ao longo da intervenção numa platéia domesticada e voltada para o apoio declarado a novas idéias, e isso eu amava fazer, porque intimamente me dava um enorme gozo, iniciar sendo xingado e terminar aplaudido.

Assim, comecei a comparecer a Assembléias Concelhias, tanto do Partido como da JSD, e logo após o próprio Francisco Mendes Costa me ter convidado, para militante do PPD/PSD, na noite da derrota eleitoral, da segunda volta das presidenciais, entre Freitas do Amaral e Mario Soares. E como era um momento particularmente difícil para o Partido, pois um dos compromissos por parte de Cavaco Silva, no Congresso da Figueira da Foz, onde ganhou o Partido, tinha sido a candidatura presidencial de Freitas do Amaral. O que significava naquela época, uma proposta de ruptura com o passado, uma proposta de novos rumos para o Partido e para o País, e logo ele que tinha ficado nas mãos com um Partido dividido, e agora também um País dividido, e ainda por cima não dispunha de maioria absoluta para poder governar tranquilamente. Eu face a tudo isso, convictamente, aceitei passar a militar no Partido Social Democrata.

Eleições antecipadas eram uma saída para a crise, pois encontrando-se o Partido em minoria e com um Presidente da Republica hostil, a convivência sem uma maioria, seria terrível, daí que o melhor seria clarificar a situação de uma vez por todas.

Recordo também muito bem essa noite eleitoral, na sede do PPD/PSD do Barreiro, e como o homem aparentemente sereno, que eu tinha entrevistado dias antes, estava naquela noite algo nervoso, triste, muito triste, e talvez devido á preocupação perante a situação política. Estava branco como a cal das paredes. Esse era o novo Francisco Mendes Costa, que eu ainda não conhecia nessa sua faceta. Não consigo recordar qualquer depoimento seu, efetuado nessa noite, mas acabei por fazer um apontamento pessoal, que foi publicado num dos jornais locais, assim com os resultados eleitorais do Concelho, e a analise a nível Nacional e Local, e as perspectivas de futuro próximo para o País, em que não errei praticamente uma linha, inclusivamente a necessidade de uma maioria para criar estabilidade a nível nacional, como veio realmente a acontecer poucos anos mais tarde.

O que ainda recordo foi que assinei nessa mesma noite a minha ficha de adesão ao PPD/PSD e á JSD, e o fato curioso da mesma ter vindo a merecer, alguns dias depois, algumas reservas por parte de João Monteiro, que não me conhecia de lado algum, e eu muito menos o conhecia de “porra” de lugar algum, e também de alguns elementos ligados á JSD, que eu também não conhecia de lugar algum, e eles a mim muito menos, tirando claro os artigos nos órgãos de comunicação social, e as minhas intervenções em estações de rádio, no entanto as fichas de adesão foram aprovadas por larga maioria, contrariando esses sépticos.  

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As assembléias concelhias aconteciam temporariamente tanto no PPD/PSD, como muito mais raramente na JSD, e eu usava da palavra quando assim o entendia, de modo totalmente livre e sobre temas que reputava de importantes, ou que dominava preferencialmente, e ao mesmo tempo discursando de forma clara e frontal, sobre como o Partido estava a ser conduzido no Concelho do Barreiro, personificado numa única pessoa, nada mais, nada menos do que por Francisco Mendes Costa, que diga-se em abono da verdade, era de certa forma, nessa época um líder só, pois ao seu lado contava com algumas, poucas, figuras apagadas, muitas delas bem mais interessadas em retirar algum proveito pessoal do que em assumir claramente diretrizes ideológicas próprias, ou porque lhes faltasse ‘Q.I.’ e alguma massa encefálica suficiente para assumirem o seu pequeno pensamento, ou porque era mais fácil abanar a cabeça e dizer sim, a tudo quanto o líder local apontava como sendo o melhor caminho. Assim figuras como João Monteiro, Fernando Cruz, Fernando Silva, Bernardino, Marlene Abrantes, Pinto Monteiro, Humberto Gorjão, Clarimundo Pereira e muitos outros, navegavam nesse navio de águas mansas, com o “Almirante” Mendes Costa, na ponte de comando, puxando os ‘cordelinhos’ como se eles fossem meras marionetes manobrados pelas suas mãos, cometendo assim o obvio erro pessoal, aliás nunca pessoalmente assumido, de dessa forma desgastar a sua figura, que se devia resguardar, para se preparar para outras batalhas bem mais importantes. Para além de outros diferenciais de gestão, era acima de tudo esta a minha grande sensibilidade em relação a Francisco Mendes Costa, pessoa que sempre considerei um bom estrategista e político astuto e hábil na manobra da política local, debaixo daquele seu simples metro e meio de altura.

Depois surgiam figuras que apoiavam o “Almirante”, mas que tinham a vantagem de ter idéias próprias, mas que; tinham algum receio em as vir a admitir, ou demonstrar claramente, tornando publicas as suas opiniões, com receio de poderem ser tomados como meros “marinheiros amotinados”. Destes, pelas muitas conversas havidas ao longo dos tempos destaco o José Carlos Lopes, Álvaro Ferreira, Gonçalo Rego, Bencatel, Fernando Pineza, e até o Barbosa ex-diretor do Centro de Emprego do Barreiro, que nos momentos sóbrios tinha algum pensamento próprio e que anos mais tarde deixou de militar no Seixal e veio para o Barreiro.

Do outro lado da barricada, estava a chamada oposição interna, que se baseava em termos de oposição efetiva, numa ausência constante da sede concelhia e presenças ostensivas somente quando se realizava alguma assembléia Concelhia do Partido, mas sempre com muito fraca expressão e liderada por um lado pelo Adolfo Vitorino e por outro pelo Oliveira Soares, como oradores, e apoiados por alguns poucos adeptos, muitos deles mais por terem sido deserdados ou expulsos do navio do “Almirante Costa” do que por convicção plena, em termos ideológicos, da necessidade de um novo rumo na estratégia da política local, como por exemplo o Engº Vilela, que outrora fora Presidente da Concelhia, e agora era apenas um mero elemento  da oposição.

Dentro das estruturas do Partido em termos autônomos existiam os Autarcas – Associação Nacional dos Autarcas Social Democratas, que como os Autarcas do Concelho eram controlados pela maioria, também essa estrutura era liderada pelos mesmos, manobrados diretamente por Mendes Costa e o seu grupo de diretos colaboradores.

Os trabalhadores, TSD – Trabalhadores Social Democratas que; por falta de orgânica própria, eram também comandados pela maioria e a JSD, Juventude Social Democrata, uma estrutura de jovens com singelos 87 militantes em 1986/1987, liderados á época pelo Paulo Freitas, que embora com idéias próprias, não era, por razões profissionais, mais do que um simples e fiel seguidor das estratégias de Francisco Mendes Costa.

A Estrutura de Juventude não crescia mais em termos de militância, pois era importante manter um chamado clube fechado e restrito, e assim muito facilmente controlável, para não se perder o controle eleitoral interno, se bem que estivesse profundamente dividido em 3 grupos.

Assim Paulo Freitas, como Presidente, liderava um dos grupos, alegadamente o com maior numero de militantes, que dessa forma ia controlando a concelhia. Existia ainda um grupo de oposição, liderado por descontentes como o Carlos Vitorino, e ainda, um outro grupo de descontentes, que nem apoiavam nem um grupo nem o outro, simplesmente nem compareciam nas instalações da sede.

A maioria tinha a sua situação perfeitamente esclarecida em termos de subserviência ao Partido, uma vez que salvo raras exceções, em termos profissionais deviam algo, pelo menos o favor da colocação profissional. No entanto algo idêntico se passava no Partido nessa época, esta estratégia era particularmente utilizada por Mendes Costa, que assim movimentava as suas influencias, na tentativa de dessa forma fixar votos e apoios. Ao mesmo tempo, ia arranjando colocações e ampliando a sua rede de apoios eleitorais internos. Essa mesma estratégia foi tentada comigo pessoalmente, mas sem qualquer êxito, quando me foi oferecida uma colocação política no Ministério do Trabalho, IEFP, no Centro de Emprego do Barreiro, sem que eu me tenha deixado vender ideologicamente. Essa derrota moral contrariou e enervou muito, algumas cabeças pensadoras da época, que entendiam ser essa uma das formas de me tentar domar, e assim me dominar no sentido de apoiar a causa da chamada maioria.

Nos casos particulares da JSD existiam alguns exemplos, por antiguidade o João Azevedo, que tinha sido Presidente da JSD e foi colocado na sede nacional do Partido em Lisboa, e daí na Comissão Nacional de Eleições, e como que desapareceu do Barreiro, para não incomodar. Outro seu companheiro de Comissão Política da JSD, foi como que despachado para a Câmara de Oeiras, e outro ainda para a Câmara de Sintra.

A situação do Paulo Freitas era o maior exemplo, dessa política de colocações, pois tinha sido colocado na Câmara do Barreiro, pelo próprio Mendes Costa, quando era Vereador do Transito. Os apoios do José Carlos Lopes tinham que ver com a sua colocação na Rádio Antena 1, e os Pineza’s na TV. O Fernando Cruz que trabalhava com o pai, recebia por via deste, apoios para a falida empresa familiar de madeiras.

E no Partido tínhamos ainda a situação do Barbosa no Centro de Emprego, e do João Monteiro nos CTT. Muitas mais situações aconteceram ao longo dos anos, um pouco por todo o lado.  

Atendendo á minha postura frontal e irreverente e de certa forma incomoda para o Partido, a chamada oposição da JSD, liderada na época por Carlos Vitorino, resolveu apostar em mim para tentar ganhar a JSD, liderada pelo Paulo Freitas e que iria apresentar o Luis Pineza, como candidato á sucessão.

A minha aposta, após o convite que me foi feito, era tentar ganhar a JSD, com uma nova postura, com novidade e como forma de tentar mudar algo no Barreiro a nível do próprio PSD num futuro a médio prazo.

Um dia pela manhã, fui visitado na redação do jornal “Voz do Barreiro” do qual era na época Chefe de Redação, pelo Carlos Vitorino e pelo Álvaro Ferreira, efetivando um convite para uma candidatura á liderança da JSD do Barreiro.

A entrada na política ativa, era para mim naquela época, algo muito longe das minhas cogitações pessoais, que nesses tempos estavam voltadas na sua totalidade para a comunicação social, tanto falada como escrita.

Acabei por lhes pedir algum tempo para pensar e decidir, pois para além de existirem as duas possibilidades em aberto, de ser eu ou o Álvaro a liderar a lista, sendo que o que não lidera-se ficava como Vice-Presidente, ficando assim eu, ainda com algum tempo livre para a comunicação social, e menos exposto. Eu fazia questão de não misturar política com jornalismo, em caso de liderança da lista, pois não entendia a possibilidade de liberdade de opinião num mesmo Concelho, entre jornalismo e política ativa, ainda por cima na liderança.

Assim, decidi conhecer a militância para ter uma imagem real do que poderia ser a JSD atual e futura, para além das reais possibilidades de uma candidatura vitoriosa, uma vez que eu, como em tudo na vida, não gosto de entrar para perder.

Foi facultada uma listagem e com a prestimosa ajuda do Carlos Vitorino, fiquei a conhecer um a um os militantes fixos, da suposta maioria da JSD do Barreiro, ao mesmo tempo iniciei uma visita detalhada aos restantes militantes, para saber da sua real situação e posicionamento político, perante a nossa candidatura.

Este contato, sondagem, porta a porta dava a JSD do Barreiro como que efetivamente dividida em 3 grupos quase iguais, ou seja a lista que iria ser encabeçada pelo Luis Pineza, a nossa lista e um outro grupo de militantes que jamais votariam em nenhuma das duas candidaturas, mas que em ultima instancia poderiam votar em nós, por uma questão de voto de protesto, um vez que afirmavam já não acreditar em muitas mudanças, e que tudo continuava na mesma e outros ainda que afirmavam já nada ter que ver com a JSD e o PPD/PSD.

Depois de analisar muito bem todas as possibilidades, cheguei á conclusão de que aquelas eleições eram um tremendo desafio, que se iriam disputar por um máximo de 3 votos de diferença, para um dos lados, e que essa diferença só poderia acontecer se todos comparecessem e no momento do debate 2 ou 3 votos fossem ganhos para a nossa proposta.

Mais um fator a dificultar era ainda por cima o Álvaro Ferreira, que acabou por ficar assente ser meu Vice-Presidente, e que não iria estar presente, e dessa forma nem votaria nele próprio, o que constituía logo á partida um voto negativo, uma vez que no dia das eleições estaria nos Açores em gozo de um período de ferias.

Resolvi apesar de tudo avançar e apostar.

A minha vida, até hoje, sempre foram apostas e constantes desafios, e quanto mais difíceis eles são, mais se tornam de certa forma, instigantes para mim.

O Partido pressentindo a grande ameaça da nossa candidatura, apostou todas as suas cartas na lista contraria, disponibilizando apoios vários, como viaturas e dinheiro para a campanha, liberdade em termos logísticos para poder utilizar o telefone livremente desde a sede, e outros apoios. Por outro lado o Oliveira Soares decidiu jogar nos dois tabuleiros, e tanto dava apoio a uma lista como á outra, na verdade ele sempre foi assim. Um cidadão tipo vira-casaca á portuguesa, um indefinido, que quer papar tudo, e normalmente no fim acaba por não papar nada.

Eles tinham assim toda a máquina na sua mão, e larga vantagem neste aspecto. Acontece quase sempre que quem está no poder utiliza o poder para se tentar manter, controlando a maquina política. Neste caso nem o fato de alguns membros da Comissão Política Concelhia do Partido, nos serem afetos, nos trazia alguma vantagem, ou diminuía de alguma forma os apoios que estavam concentrados no lado contrario.

Por outro lado ainda podíamos contar com algumas jogadas contrarias, protagonizadas pelo Oliveira Soares, alias o atual dirigente dos Bombeiros do Barreiro sempre foi assim, um exímio manipulador, um dualista, que gosta de se rodear de “nulidades” como é atualmente a sua parceria com Manuel da Luz. Claro que esse tipo de atuação tem valido algum ostracismo interno em termos de cargos. Sempre foi uma personagem que ambicionava dar um salto bem maior do que a sua perna, sendo o seu maior sonho a Vereação da Câmara do Barreiro, ou mesmo algo maior, no entanto nunca conseguiu dar esse pulo a seu gosto. Embora graças ao Dr. Joaquim Eduardo Gomes, então Presidente da Distrital de Setúbal do PPD/PSD, lhe tenham facultado alguns “tachos” de pequeno porte, para o irem entretendo, e irritando direta e indiretamente, de certa forma o Mendes Costa.

No caso concreto da JSD do meu tempo, nada lhe devemos, não fez mais do que a sua obrigação, e nós só tínhamos o nosso crer, vontade, e mais do que tudo um projeto concreto para o futuro dos jovens do Barreiro.

Assim, juntamos os poucos apoios de cada um dos candidatos, e fomos á luta. Foi a primeira campanha da JSD do Barreiro, feita em moldes por assim dizer inovadores, com um orçamento, escasso diga-se, mas um orçamento de campanha para ser cumprido, e recordo que na época foi de cerca de 40.000$00, um programa de candidatura baseado numa moção de estratégia por mim escrita, e apoiada por todos os membros candidatos da equipa. Preparado e enviado para todos os Militantes, sem exceção, por via postal, e onde foi possível também efetuar algumas entregas porta a porta, na mão dos próprios Militantes, num ultimo pelo ao voto.

Durante a campanha, e como a oposição não dispunha de um espaço próprio para se poder reunir, acabamos por adotar o café Skipy, próximo da sede do FC Barreirense e tipografia do pai do Helder Madeira, como sede de campanha e candidatura, e ali passávamos algum do nosso tempo. Foi ali que concluímos as maquetas finais do programa eleitoral e candidatura, e foi também dali que; fizemos o ponto de encontro, no dia das eleições, para concentrar os militantes nossos afetos, antes de seguirmos em grupo unido até á sede no dia e hora das eleições.

Por outro lado também conseguimos alguns apoios desinteressados de militantes, que disponibilizaram viaturas, para se poderem ir buscar militantes que habitavam, em locais, mais distantes da sede. Nomeadamente na zona rural, e que não tinham muita disponibilidade de transporte para poderem deslocar-se, participando na Assembléia. Tudo acabou por correr quase na perfeição, e posso assegurar que foi a eleição, que até hoje, me deu mais prazer em participar e disputar, pessoalmente, como líder de uma das listas, de todas as muitas eleições em que liderei listas a determinado órgão ou lugar. Tão saborosa como esta eleição e vitória, só recordo mesmo, a que disputei no Hospital de São José em Lisboa, como candidato a representante administrativo no Conselho Geral. E que obviamente com muito maior numero de eleitores, vim a conseguir ganhar por maioria absoluta, logo na primeira volta, o que nunca tinha acontecido até então na historia do Conselho Geral, do HSJ para aquela área.

Aquela tarde na sede da JSD do Barreiro foi de intenso e verdadeiro debate político, sobre os programas eleitorais, o passado o presente e o futuro da JSD. Em especial Álvaro Ferreira, que tinha pertencido á Comissão Política que cessava funções, foi largamente atacado, mesmo não estando presente, comigo sempre a não deixar cair em saco roto os ataques, muitos deles até pessoais.

Uma tarde com intervenções acaloradas e esclarecedoras para todos os militantes presentes, e que tornou aquela eleição a mais participada de sempre na JSD do Barreiro até aquela data, pois dos 87 Militantes inscritos, acabaram por votar 61.

Por outro lado, das informações que até hoje me chegam, aquela foi a Assembléia Eleitoral com o debate mais longo e produtivo para o futuro da organização no Barreiro, realizada até ao dia de hoje. Naquele dia analisou-se a fundo o que os Militantes queriam realmente para a JSD do Barreiro, no futuro, e depois desse dia, realmente nada voltou a ser igual.

Quando se deu inicio á votação, já a noite caia, eu; intimamente era já um vencedor!

Eu me senti um vencedor, por considerar que tinha ganho largamente o debate, contra verdadeiros pesos pesados da JSD do Barreiro, daquela época, como o José Carlos Lopes, Fernando Cruz Filho, Luis Pineza, Paulo Freitas, entre muitos outros quadros com projetos e preparação no seio da organização local, como o Carlos Ramos e tantos e tantos outros que naquela tarde usaram da palavra.

Pelo nosso lado, salvo raras exceções e algumas intervenções do Carlos Vitorino, eu naquela tarde estive totalmente só contra o “Mundo”.

Quando o Secretario-Geral da Distrital de Setúbal da JSD, Manuel Mourinho anunciou; o resultado da contagem dos votos, fez-se um silencio enorme na sala, eu escutei serenamente o resultado no fundo da sala, como sempre gosto de fazer, entre os Militantes, que são na verdade quem decide, e quando o Mourinho anunciou a Lista – A liderada pelo Luis Pineza com 30 votos, eu já sabia que tinha ganho.

Em seguida anunciou a Lista – B com 31 votos, liderada por mim. Foi como um imenso alivio. Eu não tinha errado, éramos vencedores por 1 (um) simples voto, os votos foram recontados mais umas duas vezes, dentro da sala fechada da JSD, perante representantes das duas listas, e diversos membros da Distrital de Setúbal presentes. De entre os vários membros incluía-se o próprio Presidente da JSD Distrital, Nuno Silvestre, que assim como os restantes membros, só nesse dia conheci pessoalmente. Mas não havia duvidas, éramos mesmo os vencedores!

A abertura da porta, e o sorriso estampado no rosto do Carlos Vitorino, mandatário da minha lista, confirmavam tudo, e sobretudo, o espantoso resultado final, ainda por cima por um voto.

Tínhamos, ganho a JSD do Barreiro, e terminado com uma época e um estilo muito próprio de fazer política!

Quando usei em seguida da palavra, já como novo Presidente eleito da Juventude Social Democrata do Barreiro, a sala continuava cheia de militantes que me apoiaram, e até de alguns adversários que com toda a dignidade de derrotados, souberam dar-me os parabéns pela vitória. Todos aplaudiram, tantos os da oposição como os meus potenciais votantes, a minha chamada á mesa dos trabalhos, como novo Presidente e para assim usar da palavra, nessa qualidade.

Recordo que anunciei que o programa, ao contrario de outros exemplos anteriores, de que tinha tido conhecimento, era para cumprir e acabou mesmo por ser ultrapassado em alguns pontos. A JSD do Barreiro jamais voltaria a ser a estrutura de jovens com Militantes de 1ª e Militantes e 2ª, seriam todos Militantes iguais, todos Militantes da JSD, o que também se conseguiu concretizar enquanto fui Presidente Concelhio. Por outro lado o Partido teria que nos respeitar com estrutura autônoma, e jamais se voltaria a permitir ingerências internas, o que também veio a acontecer nos meus mandatos e muitas vezes com que custos, mesmo pessoais para mim, e de que formas mais estranhas quantas vezes!

A JSD do Barreiro realmente nunca mais voltou a ser a mesma desde esse dia, e o que antes era uma estrutura organizada para fazer umas gracinhas e; colocar uns cartazes e pendurar umas bandeirolas, para além de fazer algum trabalho “sujo” ao Partido, tornou-se sem duvida na maior organização política de juventude do Concelho do Barreiro, superando mesmo a JCP – Juventude Comunista Portuguesa, em resultados efetivos. Divulgada inclusivamente essa nossa grandeza em jornais nacionais e de modo insuspeito, por jornalistas e comentadores que até eram da área comunista, e comentaram ser com muita preocupação que observavam nessa época este fato político.

A JSD do Barreiro passou dos 87 Militantes do dia da minha eleição, para algumas centenas, e em termos financeiros passou dos 5.755$00 que nos foram transmitidos pelo Paulo Freitas, para algumas centenas de contos, transmitidas ao meu sucessor.

Passamos a conseguir participar em todas as campanhas escolares do ensino secundário, e inclusivamente num dos anos da minha presidência conseguimos conquistar todas as associações de estudantes do Concelho do Barreiro, e conquistar ainda a Associação de Estudantes do Vale da Amoreira, no Concelho da Moita, que nessa época ainda não tinha JSD organizada, um fato inédito, de que nem a JCP algum dia se pode orgulhar.

Dessa maravilhosa equipa não posso passar sem nomear o Álvaro Ferreira como Vice-Presidente, Antonio Melro como Secretário, Fernanda Rodrigues como Tesoureira e os Vogais, Paulo Afonso, João Ilídio, David Figueiredo, Maria do Céu, e como Vogais Suplentes o Sidonio Sousa e o Joaquim Núncio.

O PPD/PSD passou a ter que nos respeitar de igual para igual, e após as eleições do Partido local, realizadas meses depois, tiveram que assinar um termo de acordo de parceria e responsabilização com direitos e deveres em termos de receitas e despesas e posicionamentos políticos. Ficaram também acordados apoios para as eleições das Associações de Estudantes e outros apoios para a organização, bem como a disponibilização imediata das quotas dos militantes da JSD que eram simultaneamente militantes do Partido, e que passaram a ser da responsabilidade da JSD. Nessa altura a JSD deixou de ser vista como o simples grupo de bons rapazes, que serviam simplesmente para colar cartazes e subir aos postes para colocar bandeirolas.

A nível Distrital também a JSD passou a ser respeitada e a ter uma representação condigna, e as primeiras vezes em que o Barreiro passou a ter mais do que um simples elemento na Comissão Política Distrital de Setúbal, como até então acontecia no melhor dos casos.

A nível local a JSD passou a ter voz ativa na comunicação social,e mesmo a nível regional e nacional passamos a ter algumas noticias, periodicamente, devidamente divulgadas, nomeadamente por termos criado um gabinete de imprensa de que nem o Partido se podia orgulhar de possuir e ter divulgado e acabado com certos tipos de compadrio em cursos de formação profissional e outras situações menos claras, onde inclusivamente e de forma bastante infeliz, se movimentavam alguns elementos do Partido.

A minha imagem pessoal que já era de difícil digestão para o Partido no Barreiro, ficou mesmo intragável, e a luta política interna teve o seu inicio, culminando 6 anos mais tarde com a vitória nas eleições para a Comissão Política Concelhia do Partido, e o fim da era do grupo liderado pelo Francisco Mendes Costa, copiosamente derrotados nessas eleições.

A política na nossa vida representa tudo, mesmo que não estejamos empenhados de forma efetiva no desenvolvimento dessa mesma política.

Eu nessa época da minha vida optei por fazer parte da política ativa, e não me deixar comandar pelos políticos, mas fazer também parte das escolhas e decisões desses mesmos políticos.

Se me perguntarem, passados todos estes anos, se considero pessoalmente se fiz bem, ou mal, nessa minha opção de vida, terei que responder que nem poderei dizer que sim, nem que não.

Muito do que fiz na política ativa, ao longo de quase duas décadas, é muito por um lado e pouco por outro, do muito que poderia ter realizado e ajudado a realizar, com outras condições materiais.

No entanto algo eu não posso deixar de vos dizer; tal como na vida, é que fiz política com muito prazer, e tal como na minha vida, só fiz aquilo que me apeteceu fazer, e nunca me deixei comandar por nada nem por ninguém, para fazer algo contra a minha personalidade. Foi para mim um orgulho enorme ter liderado a JSD do Barreiro durante aqueles anos, e puder contar com equipas de colaboradores, tão boas, e com Militantes tão fieis e empenhados numa causa comum.

Fazer política com prazer; podem acreditar que é para mim uma sensação tão boa como poder desfrutar de múltiplos orgasmos, com a mulher que amamos em cada instante…

Eu realmente amei e soube amar a política no momento próprio, sim porque como tudo na vida, existe sempre uma hora e um tem próprios para tudo!   

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O ano de 1974 não trouxe só a revolução ao Pais, trouxe também a clara mudança de mentalidades ao povo português. A economia até ai funcionando a uma velocidade tipo ponto morto, como que explodiu e com essa explosão por um lado deu-se um incremento em termos de remuneração e por outro a autentica catástrofe para alguns empresários que não estavam preparados para agüentar o embate.

O meu pai que gostava de brincar ás lojinhas, como ocupação extra a juntar á sua vida profissional, também sofreu com esse embate, pois, como todos os outros, via cada vez mais caloteiros a surgirem no seu ramo de atividade. Assim foi a pouco e pouco mudando a sua mentalidade empresarial, adaptando-se aos novos tempos.

Eu também mudei algo na minha vida, foi o período da minha inicial emancipação laboral.

Assim, e graças á minha provável reprovação no ano letivo da revolução, que afinal não veio a confirmar-se, o meu pai decidiu que eu iria ficar a tirar um tirocínio profissional na sua loja e empresa na Rua Sebastião Saraiva Lima em Lisboa. Foi assim que passei a estar ali muito próximo da Morais Soares e da Praça Paiva Couceiro, a dois passos do cemitério do Alto de São João.

Curiosamente o local, onde um dia depositaram os restos mortais do meu irmão, José Francisco, um dos doze irmãos que a minha mãe decidiu dar á luz. Este era dois anos, mais velho do que eu, e que acabei por nunca vir a conhecer, pois faleceu com tão somente um ano de vida, vitima de tosse convulsa, apanhada na casa da ama que dele tomava conta, enquanto a minha mãe dava aulas no Colégio Infante D. Henrique.

Durante cerca de 3 meses, a minha atividade diária passava diretamente por aquela loja. Uma drogaria, no bom velho estilo do termo português, que vendia de tudo desde material para construção civil, até água raz, lexivia e petróleo que nessa época ainda se vendiam a litro. Parafusos, alvenarias em alumínio e cantoneiras, cal para tentar colocar paredes brancas, até que a umidade ou a passagem do tempo voltasse a tingir a tonalidade. E ainda tudo o mais que se possa imaginar, incluindo material elétrico e até loiças, sem esquecer os tão famosos penicos de porcelana e esmalte que eram tão úteis para quem ainda não tinha nessa época um WC em casa. E parecendo mentira, era verdade que nesses anos 70, em Portugal, muitos ainda tinham que ‘cagar’ no penico, ou ir colocar o traseiro ao vento.

Um WC dentro de casa, nessa época, era ainda considerado um luxo.

Eu que nunca tinha reparado nessa preciosidade, pois sempre convivera com o WC, no interior de casa, achava ridículo ter que urinar ou defecar na casinha separada. E muitas vezes em visitas a casas ainda sem esse ‘luxo’ eu fazia o largo esforço de guardar a necessidade fisiológica até não poder mais, pois não me sentia nada confortável naquele apêndice extra da casa, e quanto a utilizar o famoso e artesanal penico nem falar.

Paralelamente, e além dos penicos, a firma do meu pai tinha ainda a representação das tintas “Potro”, mais tarde batizadas de “Infante de Sagres”, cujas fabricas e sede eram em Vila Nova de Gaia. Mas mais importante do que tudo isso eram as representações da maquinas de café “Cimbaly”, com a manutenção da maquinas a cargo da firma do meu pai, e com as instalações, oficinas, a funcionarem  no mesmo local, que era enorme, ocupando toda a área do r/ch do edifício e ainda toda a cave, bem como um imenso terraço traseiro, bem como um saguão existente entre os prédios. Engraçado que foi ai a primeira vez que escutei essa palavra “saguão”. Até achei que se poderia tratar de algum animal, mas afinal era um beco, normalmente úmido por falta da entrada do sol, e que se pode encontrar esquinado entre vários edifícios, mas que raio de ‘bicho’ conseguiram inventar, para denominar um local tão sem utilidade.

Era um mundo empresarial onde nem sequer faltava uma representação de artigos desportivos de uma conhecida marca Coreana, dedicada em especial a tênis de mesa e badminton.

Foi este o universo a que acabei por me ambientar bem melhor do que eu próprio poderia imaginar. Foi com muita rapidez que aprendi a dominar a maioria das manhas e as diversas vertentes do negocio.

No entanto fiquei também certo de que nenhum de nós consegue tolerar a simples noção de que a nossa visão do mundo posa estar baseada em pressupostos falsos. Eu até essa época tinha uma noção e visão daquele mundo onde agora estava a entrar de modo efetivo e que antes teimava em descartar e mesmo contradizer em termos de importância, com a minha visão totalmente distorcida da realidade.

Portanto, nada de mais errado!

Foi assim, ali, naqueles simples meses, daquela quente primavera de 1974, que eu acabei por entender o que até hoje jamais esqueci sobre como a vida fica sem graça quando tudo é muito fácil. Anos mais tarde li uma frase do Sábio Salomão, que me marcou muito, e que de certa forma explica muito bem tudo isto:

“Comer muito mel não é bom!”

Tem toda a razão o Sábio Salomão, pois para além do sentido funcional em que os problemas de saúde podem surgir devido ao excesso de doces, no sentido figurado, provavelmente onde ele queria mesmo chegar, a lógica de uma vida fácil, torna-nos seres egoístas e muito pior do que isso; nada preparados e completamente sem defesas quando confrontados com as dificuldades da vida que em qualquer momento nos podem surgir no dia-a-dia.

Eu até essa primavera, tinha realmente comido demasiado mel!

Hoje mesmo, eu que nunca soube viver sem governar dinheiro em numero considerável, pelo menos suficiente para viver de um modo acima do razoável, passo por opção pessoal, e de modo temporário, por essa fase e dessa forma constato que a vida é sem duvida, feita de constantes contrastes.

Este momento presente da minha vida, esta a ser muito importante, ainda mais que foi determinado por mim de livre e espontânea vontade, e do qual no seu final vou recolher profundos ensinamentos para todo o resto da minha vida. Imagine-se que mesmo vivendo dessa forma eu me consegui tornar economicista e juntar dinheiro, sim virei um autentico ‘forreta’ um ‘mão-de-vaca’, e hoje quando vou gastar um real, penso duas vezes na utilidade do gasto, podem mesmo acreditar, eu nunca fui assim!

A vida é como as estações do ano que vão mudando de acordo com as diversas rotações do nosso universo. Felizes de todos aqueles que tal como eu podem dar-se ao luxo de; de certa forma, poderem comandar essas rotações universais.

No entanto, mesmo assim, muitas vezes temos que saber encarar mudanças bruscas, diferentes de tudo o que estamos habituados a conhecer, sobretudo mudanças antagônicas, pelo que os diversos contrastes são parte integrante da nossa vida.

Assim é o nosso dia-a-dia, um completo conjunto de contradições, no fundo uma grande e constante encruzilhada.

Com muita freqüência a nossa vida é como uma forte ondulação marítima, em alto mar, cheia de alegrias e tristezas, esperanças e desesperos, prazeres e muitas vezes também, dores muito fortes, são assim essas ondas bem altas que melhor refletem o dia-a-dia da nossa existência.

Olhando desta forma simplista, a vida parece uma grande incoerência, uma perfeita insensatez, porque convivemos a todo o instante com todo o gênero de contrastes.

É com a nossa capacidade de equilíbrio perante os contrastes variados da vida, que nos surgem no dia-a-dia, que definimos melhor o nosso destino previsível, aquele que temos capacidade de enfrentar e escolher.

A nossa vida dentro dessa estrada, aonde vamos encontrando encruzilhadas, obriga a escolhas diárias, e o equilíbrio nessas escolhas é que nos dará a dose exata do sabor da vida.

Foi assim que ao fim desse trimestre de 1974, eu colocado perante aquela encruzilhada decidi que por ali não iria, aquele não era o caminho que eu queria de forma alguma tomar.

No entanto, também aproveitei para aprender que é muito bom conhecer, saber como viver e conviver com situações que mais tarde nos podem vir a ser muito úteis noutras áreas da nossa vida. Foi assim que aprendi a conhecer os empregados e a sua capacidade profissional e, sobretudo a sua vontade de bem atender um cliente sem deixar ficar mal o patrão, ou as firmas ou entidades para as quais trabalham, uma autentica aula pratica de relações humanas, que hoje me permite com o mínimo erro distinguir um bom de um mau funcionário, o que também tem os seus inconvenientes pois devido ao meu terrível feitio, eu detesto maus funcionários, seja numa simples loja, num bar ou restaurante, até parece que tenho faro para os cheirar ao longe, e tentar evitar o seu atendimento, para não ter que mais tarde vir a ser indelicado.

Foi também ali que fui aprendendo os muitos truques que comportam o correto funcionamento de um comercio voltado para o atendimento do publico diversificado. Talvez que isso tenha tido alguma, ou muita influencia, direta no meu contato com a política anos mais tarde, pois existe alguma similitude comercial, e dessa forma moldei a minha forma de contato com o cidadão comum, com o contato direto com o potencial eleitor.

Nesse curto espaço de tempo aprendi ainda a lidar com o espécime mais difícil que se pode encontrar na face da terra, e sobretudo no comercio, que são os chamados “caloteiros”, um tipo de individuo que funciona como um verdadeiro  camaleão, mudando constantemente de atitudes e métodos persuasivos. Só consegui entende na totalidade o seu modo de agir, ao ser enviado para cobrar algumas dividas, as chamadas cobranças difíceis, e dessa forma utilizar os chamados métodos Antunes da Silva, que eu algumas vezes observei e que também tive que utilizar, e que sem duvida devido ao seu êxito, ainda hoje fazem parte da minha escola da vida para cobrar dividas difíceis, ou mesmo para solucionar algum problema desse gênero.

Clientes difíceis, requerem sempre técnicas difíceis e diversas, adaptadas a cada caso, pois não existem dois casos iguais. E se no caso de um fornecedor ou de um prestador de serviços, caso ultrapasse o razoável em termos de qualidade ou de tempo de entrega ou montagem, eu funciono de um modo geral de um modo bem simples, dispensando pura e simplesmente na hora os seus serviços, no caso das cobranças o assunto é bem mais difícil.

Naquela época, para se recuperar o chamado credito mal parado, os métodos tinham que ser bem diversos, e de acordo com o cliente, o valor em divida, o tempo de antiguidade do calote e a importância da forma ou do cliente. Sendo que para mim, até hoje, a força do método e o modo a utilizar são proporcionais de um modo direto com a importância ou grandeza em presença. Ou seja; para uma loja grande e de renome, só com muita força e uma dose de explosão de fúria em ultimo recurso se consegue resolver, pois essas individualidades detestam escândalos públicos e publicidade negativa, por essa razão evitam esse tipo de abordagem.

Nessa época as minhas grandes vantagens era ser jovem e saber como agir, era por assim dizer um puro, e como tal ao principio não me levavam muito a serio, no entanto em curto espaço de tempo entendiam que eu não brincava em serviço e de que falava muito a serio. Recordo até hoje duas situações com métodos e resolução bem diferentes, mas com iguais resultados finais, positivos.

A firma do meu pai havia vendido uma considerável quantidade de tintas para uma firma situada numa das avenidas que desemboca na rotunda do relógio, a minha memória vai parar talvez á avenida do Brasil, ou a outra muito próxima, mas não tenho já exata certeza, no entanto sei ainda hoje lá ir ter a pé, partindo da Praça do Areiro, porque acabei por fazer todo o caminho de regresso a pé e nunca mais esqueci as muitas voltas que dei:

A conta em divida era naquela época uma pequena fortuna, superior a 300 mil escudos, o que á data quase dava para adquirir um apartamento em Portugal.

O meu pai insistia por via postal e via telefônica, mas os cavalheiros, dois engenheiros civis, com muita lábia e falinhas mansas, prometiam e nada acabavam por resolver, e nessa época o Antunes da Silva já não era o mesmo justiceiro de anos antes, e levava a vida muito mais tranquilamente. Estava a dois dias de partir para África, Moçambique, e a firma era simplesmente um brinquedo que arranjara para se entreter nas horas mortas, no entanto aquela divida, eu sabia que o preocupava devido ao seu volume fora do comum.

Uma desculpa que muitos construtores utilizavam e com total verdade é que tinham os apartamentos prontos para venda, mas o mercado não suportava mais vendas, a economia nesse setor estava rebentada, e sem grandes esperanças de saída a curto prazo. Era verdade, mas também era verdade que os fornecedores de materiais os tinham entregues a tempo e horas e estavam com as dividas acumuladas perante os fabricantes, era assim um ciclo vicioso, em que o elo mais fraco acabava por partir.

Um determinado dia ele acabou por me falar nessa divida e pela necessidade da sua cobrança, e como já estivesse farto  daquela firma, entendia que a cobrança desse valor tinha que ser feita nem que para isso fosse necessário uma ‘escandaleira’ lá na sede da firma. Por assim dizer, indiretamente deu-me carta branca para efetuar a cobrança, pois para ele e no seu entendimento, aquele assunto iria para ser resolvido iria obrigar a que se chateasse fortemente.

Então uma manhã, decidi colocar-me a caminho. Na realidade para ele eu iria fazer uma tentativa amigável de resolver o assunto, no entanto para mim, quando sai da loja eu ia decidido a resolver aquele assunto ao modo que fosse possível, mas resolver de uma vez, naquele mesmo dia.

Com um simples papel com a morada e um mapa da cidade numa mão, e uma fatura na outra, lá fui parar direitinho ao edifício da sede da firma, era uma vivenda recuperada e adaptada para sede empresarial, para dar um ar de grandeza a uma firma de calotes.

Para aumentar ainda mais a boa imagem tinham colocado duas simpáticas meninas na recepção que mal entenderam de onde eu vinha e ao que vinha desde logo mostraram largo nervosismo tentando ao máximo abreviar a minha visita. No entanto eu sou muito teimoso e mesmo embirrento quando quero, e nesse dia eu pretendia falar com um dos cavalheiros, donos da firma, ou mesmo com os dois, ou com nenhum deles desde que fosse pago o valor em divida imediatamente.

Como sempre faço, nestas situações, o meu primeiro contato é muito firme, mas cordial, sem deixar, no entanto, de ser bem direto e incisivo. Falando sempre alto para que me escutem muito bem, tentando manter o tom uns decibéis acima do normal para que sintam alguns problemas auditivos e dessa forma entendam logo á primeira de que se necessário irei ainda falar mais alto, e sem deixar qualquer duvida de que estou ali para resolver o problema a qualquer custo.

As meninas, ficaram desde logo muito evasivas, e pouco ou nada convincentes ao afirmar que os cavalheiros não estavam nas instalações, e que não tinham ordem para pagar aquela conta, nem cheques assinados para isso e mais um monte de argumentos do tipo ‘baboseiradas’ para entreter e tentar desmoralizar a minha visita, tentando antecipar a minha partida, e dessa forma mais uma vez deixar tudo na mesma.

Eu, sempre ladino, desde logo entendo toda a jogada, e também que pelo menos um dos cavalheiros se encontrava nas instalações. Como o tempo fosse passando e de soluções nada, resolvi mudar a minha atitude, informando que não iria embora sem resolver o assunto, ou a mal ou a bem, recebendo o valor em divida, e que face ao tempo decorrido, e aos prejuízos já causados á firma do meu pai pela falta desse dinheiro na caixa, não poderia existir prejuízo maior.

Como tal seria muito bom contatarem os cavalheiros para comparecerem naquele momento, sob pena de eu ser obrigado a iniciar um escândalo no local, que passaria pela destruição do mesmo em termos materiais. Afirmei ainda em ar de gozação que seria muito triste ter que dar um novo ar e decoração em tão lindo edifício, desde as montras, ás portas de vidro, ás maquetes das construções em exposição, ao mobiliário, etc…, e que não iria esperar muito mais tempo, pois para mim tempo era também dinheirinho.

Elas ao principio ainda olharam uma para a outra e devem ter pensado que eu estaria a brincar, ou tentar fazer bluf, e alegaram mesmo que eles estavam numa reunião fora de Lisboa, e que não podiam ser contatados, e não queriam mesmo ser incomodados, para além de que elas não sabiam se regressariam naquele dia.

Perante este tipo de argumentação eu nem exitei:

“Pois não querem mesmo ser incomodados, e as senhoras muito menos querem incomodar, então esses dois ‘cornos’ vão ficar muito incomodados mesmo com o que aqui vou deixar depois da minha presença…”

Peguei num monte de revistas e jornais que estavam sobre uma mesa pequena rodeada de sofás na zona de espera, e para iniciar, lancei tudo aquilo para dentro do balcão, para o local de trabalho onde elas se encontravam, avisando que em seguida seria a mesa, os ‘biblots’ das prateleiras, maquetas, sofás, quadros, e que iria partir tudo, incluindo o balcão e que só pararia de partir aquela “merda” toda quando ali aparecesse um responsável ou quando já nada mais estivesse disponível para partir, pois eu tinha muito mais que fazer do meu dia do que estar ali a espera a perder tempo por dois ‘escroques’, ‘chulecos’ e ‘parasitas’ e mais uma boa mão cheia de adjetivos com que os classifiquei.

Desataram as duas aos gritos, a chamar-me louco, malcriado, ordinário, que iriam chamar a policia, etc…

Eu então não parei, parti para o ataque total e gritei-lhes que enquanto o problema não fosse resolvido iria ‘escaqueirar’ tudo.  Peguei um pontapé na mesa, e a mesma voou pelos ares com um vidro a menos, estilhaçado pelo chão, agarrei no restante da mesa e atirei para dentro do balcão. Como fizessem menção de utilizar o telefone, arranquei o mesmo com a instalação atrás e tudo. Um quadro com uma foto tipo edifício iluminado, estilo Nova York ou outra cidade parecida, foi arrancado da parede e partido contra o balcão. Elas não paravam de me gritar, e os objetos de voar das prateleiras, caindo dentro do balcão, e quando me preparava para iniciar a destruição de uma das portas de vidro, ou mesmo de uma das montras enormes, eis que surge um cavalheiro alertado pelo imenso barulho e pelos gritos das senhoras. Surgiu bastante alterado, mas logo foi acalmando perante a minha fúria, e de lhe dizer que se queria acabar com aquilo pois que saísse de dentro do balcão, que eu ainda tinha força de vontade para o partir também a ele.

Então mudou a atitude, e foi dizendo que se eu vinha para resolver o assunto, e se falasse em vez de partir o escritório, então poderia chegar-se a um acordo, e tudo ok.

Foi obviamente informado que eu nem tinha vindo tratar de outro assunto, mas que passado todo aquele tempo nada se tinha resolvido, foi também avisado que se vinha para resolver o assunto tudo ok, mas se vinha com falinhas mansas, pois eu mesmo lhe enfiava com uma cadeira nos ‘cornos’ e continuava a festa. Ele que mais parecia um ‘Maricon Espanhol’ de fatinho aos quadradinhos e todo efeminado, numa das fases da discussão, já gritava mais ainda do que as mulheres, com uma ‘vozinha’ meio histérica, acabou por pedir para eu parar para se poder falar.

Eu parei para conseguir saber o que ele realmente queria, mas recusei sair dali para algum gabinete, temia a chamada da policia. Ainda recordo que tudo foi tratado no balcão, comigo com uma cadeira estufada com armação em tubo de alumínio pronta para voar, logo ali á mão de semear, e que ele olhou todo o tempo com um ar aterrorizado, sem saber mesmo se eu não lhe faria pontaria á cabeça com ela.

Tratava-se realmente de um dos cavalheiros, que as meninas tinham afirmado estar fora do escritório, em reunião, e quando consegui confirmei essa situação; então não me contive, mesmo sabendo que tinham cumprido ordens, dirigi-me ás meninas, e com a cadeira ainda nas mãos, disse-lhes:

“estão a ver suas duas pegas como o cabrão do chulo parasita do patrão estava no escritório, cambada de ‘aldrabões’, da próxima vez utilizo a cadeira nos ‘cornos’ para lhes avivar a memória”.

Também não fui nada mole com ele, nada mesmo, fui mesmo o mais ordinário possível no palavreado, pois estava mesmo farto e zangado com aqueles vigaristas. Numa palavra; estava furioso!

Exigi o dinheiro todo, mas ele, no entanto, queria negociar com o meu pai, mas de nada lhe valeram as argumentações ensaiadas. Naquele dia ele tinha que negociar mesmo era comigo, ainda mais que eu achava que ele queria ganhar mais tempo para mandar uma das meninas, alertar, alguma autoridade sobre a situação. Na verdade proibi as saídas, e ninguém saiu da recepção para fazer nada, nem deixava ninguém tentar algum movimento mais fora do comum. Eu reconheço que estava louco de tão furioso que tinha ficado devido ás inúmeras mentiras, e naquela altura por certo não teria medido as conseqüências de qualquer ato que praticasse fora do normal.

Acabou por negociar comigo rápido, ali mesmo ao balcão, e contra a sua proposta inicial de pagar uns míseros cinqüenta mil escudos, que eu recusei na hora, exigi de imediato duzentos mil escudos naquele momento para se começar. E outro cheque na melhor das hipóteses passados 30 dias, com o valor, ainda em divida, e já descontados, os valores apurados com os meus prejuízos nas instalações.

O cavalheiro depois de muito tentar contra argumentar os valores, acabou por cumprir tudo o que foi por mim proposto e exigido, passou os cheques, e incluiu ainda um ultimo com pouco mais de quarenta mil escudos do valor final da divida, pagável a noventa dias e acabou por não receber naquele momento qualquer fatura, pois eu disse-lhe cara a cara que como eram até esse momento uma cambada de ‘aldrabões’, nada me garantia que os cheques tivessem cobertura.

As faturas viriam por via postal, contra o ultimo pagamento, e iriam sendo emitidos recibos, contra o levantamento dos cheques. Ainda regateou bastante, mas, não tinha outra alternativa, ou aquilo ou a cadeira de alumínio funcionava, sendo que ainda o ameacei que poderia voltar com uns amigos, que também gostavam muito daqueles trabalhos. O ‘maricas’ tremia por todo o lado, mais parecia um molho de varas verdes ao vento.

Após ter ainda prometido que o poderia voltar a visitar caso os cheques fossem ‘carecas’, despedi-me com o maior dos cinismos possível. Desejando uma boa arrumação das instalações e regressei á Rua Sebastião Saraiva Lima com um medo tremendo de ser seguido, para um ajuste de contas, pois eu tinha mesmo excedido tudo o que se poderia imaginar para receber aquela conta.

Recordo que decidi fazer todo o trajeto a pé, na esperança de conseguir encontrar um táxi livre, o que só consegui já na Praça do Areiro, hoje Praça Francisco Sá Carneiro. Caminhando como um louco, ou um acossado, olhando para todo o lado, até que lá consegui encontrar um táxi que me colocou em bom porto na porta da loja.

O meu pai obviamente que estranhou a prontidão no pagamento tão rápido dos cavalheiros, logo ele que andava á meses, mais de um ano, para conseguir solucionar aquele assunto. Somente semanas mais tarde acabou por saber como eu tinha conseguido receber aquele avultado valor em divida, e só o soube por mero acaso ao encontrar-se com um dos cavalheiros, que lhe informou da minha iniciativa, dos inúmeros, prejuízos que tinha causado nas instalações, e que não queriam nem ver-me por perto do seu escritório.

Fui recriminado, mas quando me deixou falar. Logo mudou de opinião e acabou por encerrar o assunto mesmo por ali, uma vez que os meus dois argumentos eram imbatíveis:

Em primeiro lugar eu tinha conseguido receber o dinheiro, o que não tinha conseguido naqueles meses todos, e em segundo lugar eu não tinha feito nada que ele antes já não tivesse feito antes, em moldes muito idênticos, ou talvez piores, anos antes.

Eu próprio tinha assistido a uma cena bem pior, no final dos anos 60, para cobrar uma divida em Cinfães do Douro, e onde não se conteve e deu mesmo uns ‘murraços’ bem fortes, num devedor mais atrevido.

No dia em que partiu para Moçambique, jantamos no restaurante do primeiro piso do aeroporto, e recordo que antes de passar para dentro da sala de embarque, se despediu de mim, deixando umas quantas notas, cerca de quarenta mil escudos, no bolso da minha camisa, gozando que era por eu ter poupado dinheiro, ao não ter partido a montra do engenheiro…

Hoje eu sei que a sua recriminação ao meu ato e métodos utilizados, foi justa, e mais para me defender do meu tempestivo temperamento, e de possíveis tentativas futuras, muito embora ainda hoje eu considere que utilizei o único método que poderia ser utilizado, perante a teimosia daquela gente, o chamado método para ser utilizado somente numa situação limite.

Na verdade essas suas recriminações ainda á poucos dias, aqui mesmo no Brasil, me vieram ao cérebro, quando no decorrer de uma violenta discussão, eu estive a dois passos de partir para cima, como se costuma dizer, e me contive, acabando por ganhar a contenda, graças á minha capacidade de argumentação, neste caso física.

Por outro lado, ate hoje não recebi quaisquer despesas pelos prejuízos causados, e mesmo que tivessem surgido jamais seriam pagas com o argumento muito justificável de que poderiam ser atendidas como juros de mora, pelo imenso tempo que tinha decorrido até á resolução da divida.

Em geral não colocamos limitações ás nossas ações, fazendo fé que são justas e são parte da nossa realidade. É, no entanto, importante saber que elas são sempre o resultado dos mais altos valores, que nos foram doados desde a nossa infância.

Seguindo o pensamento de Henry Ford, que conseguiu transformar as simples carruagens puxadas a cavalos em automóveis com a colocação desses metafóricos cavalos lá dentro do motor:

“O que eu desejo da vida posso conseguir!”

“Se você disser que consegue, você conseguirá; se disser que não consegue, não conseguirá”

Se não alcançamos as metas propostas, muitas vezes não tem que ver com fatores externos que estejam, de alguma forma bloqueados, e sim com as conclusões que se vão formando na nossa mente a nosso próprio respeito.

É assim simplesmente uma situação de auto – controle das nossas vidas que nos cabe a nós controlar.

Algum tempo mais tarde, estando eu já fora da obrigação profissional diária, lá para as bandas da Morais Soares, na Sebastião Saraiva Lima, o meu pai solicitou-me o favor de efetuar uma cobrança; de uma tinta vendida para uma drogaria que ficava na zona de Santo António da Charneca, mas com a recomendação de que não deveria tentar o método estremo.

Era uma divida de pouco mais de sessenta mil escudos, e eu até hoje sempre fiquei como um simples “parvo”, na mais completa duvida do valor real total dessa divida, pois acho que ele era bem maior. No entanto, fiquei certo de que ele próprio, já tinha cobrado o valor em “gêneros”, pois a dona da drogaria tinha bem o aspecto de quem sabia resolver alguns problemas efetuando pagamentos sem necessitar de abrir a carteira, abrindo para o efeito outras coisas.

No entanto um dia, desloquei-me ao local, tendo o cuidado de avisar a senhora por via telefônica, sobre a minha visita, e as minhas intenções, para que fosse desde logo portadora do valor da divida em falta, para assim se regularizar a fatura.

Mesmo assim, quando cheguei ao estabelecimento, o mesmo encontrava-se encerrado, e depois de muita investigação efetuada nas redondezas, consegui apurar que a habitação da proprietária ficava situada no mesmo edifício, logo por detrás da loja comercial.

Foi uma autentica ginástica para conseguir chegar á fala com a dama, que depois de reconhecida e finalmente encontrada na sua residência, tentava por todos os meios arranjar argumentos para não pagar, ou melhor, eu acho que tentava arranjar argumentos para o pagamento vir a ser feito diretamente ao meu pai, ou quem sabe, em ultima instancia a mim próprio, utilizando os moldes que eu suspeito que já tinha utilizado anteriormente.

Umas vezes argumentava que depois passaria por Lisboa para pagar lá na loja, outras que de momento não tinha talonário de cheques, outra que o negocio estava muito mau, outras que poderíamos conversar agradavelmente, etc.

Acabou por abrir o estabelecimento, e eu pude conferir que já tinha vendido praticamente todos os produtos que lhe tinham sido fornecidos após a sua encomenda. No entanto, muito embora já tivesse encaixado o dinheiro e respectivos lucros, quanto a pagar o encomendado, nada de intenções, e ainda chegava ao desplante de querer encomendar mais produtos, sem ter qualquer intenção de pagar os primeiros.

Depois de uma acalorada discussão, com direito a assistência de vizinhos e transeuntes, que dessa forma puderam assistir gratuitamente ao espetáculo, eu que de certa forma não deixava os meus créditos por mãos alheias, e decidi que não iria embora sem receber algo, mas em dinheiro, pois a insinuação para outro tipo de pagamento, estava totalmente fora de causa, pois olhando bem para ela, mais me parecia uma ‘Vaca Leiteira’ tresmalhada.

Por fim, vendo que eu não iria abandonar a minha decisão de receber algo, lá resolveu ir contar algumas notas, que mais  pareciam guardadas debaixo do colchão, e assim pagar até ao ultimo centavo a divida, para não ser mais envergonhada em frente da vizinhança, com uma imensa platéia que já se tinha formado para assistir aos desenvolvimentos da cobrança a uma verdadeira ‘caloteira’.

Depois de finalmente pagar, e como o produto, segundo ela própria dizia, era de boa qualidade e se vendia muito bem, encomendou desde logo um novo fornecimento, agora com o compromisso de pagar a 120 dias após a data de entrega.

Lamentavelmente, alguns meses mais tarde, fui novamente obrigado, a mais uma visita, desta feita para efetuar a cobrança dessa encomenda, e muito embora tenha acabado por pagar de um modo bem mais rápido, muito embora tenha no entanto lançado uma nova fornada de argumentos, eu não aceitei uma nova encomenda, pois que clientes desse tipo dão muito trabalho e muito poucos lucros, e dessa forma qualquer empresa ganha muito mais em não os ter por clientes na sua carteira. É uma decisão econômica e de gestão financeira que conseguimos entender ao fim de muito pouco tempo no mercado.

O material fora da loja, na mão de clientes deste tipo, somente é rentável se pago no ato de entrega, caso contrario, os compromissos a terem que ser cumpridos com o fabricante ou distribuidor, gerem problemas de imagem para nós próprios. Por outro lado muitas vezes entra-se numa situação de comprometimento, muito comprometido, gerando dinheiro fora da caixa. Ou seja, uma despesa dupla, e que quando se consegue reaver, o valor em divida, os custos diretos e indiretos para efetuar essa cobrança, mais os encargos assumidos acabam obviamente por dar prejuízo a quem vendeu. Mais vale ter o produto na prateleira ou vender em menor quantidade, mas com garantias de receita certa, e se não o conseguir colocar no mercado, fazer o seu estorno com o fornecedor, com encargos mínimos, ou mesmo na maioria das vezes nulos, sem nenhum encargo, tirando as prateleiras ocupadas por algum tempo por um produto imóvel e não rentável.

Muito mais racional e previsível era a representação das máquinas Cimaly, e se bem que o maior volume de negocio fosse a manutenção periódica, aquela atividade era muito mais segura e gratificante do que o irregular negocio da venda das tintas, pois a manutenção das máquinas de café é sempre necessária em termos periódicos e quem contratava esse serviço necessitava da disponibilidade da máquina num curto espaço de tempo, e portanto não reclamava ou atrasava o pagamento do serviço, pois só levantava o equipamento após o bom pagamento do serviço prestado.

Para mim, pessoalmente, foi enriquecedor o conhecimento do funcionamento daquele ramo do negócio por vários motivos. Pelo lado técnico de que a curiosidade foi sempre uma fada madrinha, era deslumbrante poder conhecer o interior da maquina e o funcionamento daquela resma de tubinhos com a caldeira no meio, e saber a verdadeira ciência e os segredos da feitura do café á pressão.

Ao mesmo tempo foi interessante descobrir que o negocio do café pode ser muito rentável, dependendo dos vários truques utilizados desde a quantidade de café introduzida nas ‘manetes’, que inclusivamente tem grelhas para várias quantidades, por outro lado muitos conseguem retirar mais do que uma dose com o mesmo café, e outros truques utilizados para o café com leite, carioca, etc… Segredos que só os técnicos experimentados são conhecedores na sua totalidade, mas que permitem que o café possa dar um lucro incrível de cerca de 500%.

Acabei por conseguir desmontar e montar uma maquina de café totalmente sozinho. Para concretizar esse feito, bastou-me; muita atenção ao ver como os técnicos procediam, e a partir daí aquilo que ao principio me parecia ser uma atividade digna quase de um gênio, passou a ser vista por mim como algo que não exigia muita aplicação, e não passava afinal de uma atividade repetitiva que apenas exigia muita concentração alguma habilidade, para além de paciência na montagem.

Por outro lado eu jamais poderia imaginar que aquelas engenhosas máquinas, pudessem guardar no seu interior tamanha quantidade de calcário. E também de ‘simpáticas’ baratas, que adoravam instalar a sua casa na zona periférica ao calor dos vapores e que não raras vezes acabavam por viajar desde as instalações dos cafés até á oficina de manutenção, camufladas na carnagem das maquinas, e só perante a desmontagem e abertura se deixavam ver.

Quem tem horror a baratas nunca poderá trabalhar num café, pois hoje sei que, por muita higiene ou combate a esses insetos que possa existir num café, elas acabam sempre por aparecer em maior ou menor quantidade, dependendo obviamente dos cuidados que possam existir. Mas por uma questão de clara ambientação á temperatura do local, elas sempre acabam por surgir, e reproduzir-se de um modo espantosamente rápido.

Este trabalho na empresa do meu pai, para mim foi ainda mais gratificante pelas inúmeras possibilidades que me deu de poder conhecer muito bem a zona da baixa lisboeta, no decorrer das minhas visitas quase diárias á oficina que procedia á ‘descalssificação’ e ‘cromagem’ dos tubos e outros acessórios componentes das máquinas.

A empresa encarregue desse trabalho, ficava situada ali bem perto do Coliseu dos Recreios, na Rua das Portas de Santo Antão. Eu não perdia a oportunidade de sempre que possível lá ir, para poder viver o deslumbramento das muitas casas de espetáculos que por ali existiam, os cinemas as cervejarias e poder ver algumas interessantes prostitutas, que naquela época se passeavam bem junto da sede do Benfica. Ao mesmo tempo podia deliciar-me com um bom frango no ‘Rei dos Frangos’, ou outras vezes uma mariscada no ‘Sol e Mar’ passando por jovem playboy que com um bom prato de camarão cozido com umas imperiais a acompanhar, ou quando o orçamento diário estava mais abastado uma boa sapateira recheada acabava por dar nas vistas.

Foi precisamente devido a estas deslocações exploratórias, á baixa lisboeta, que eu me tornei um viciado apreciador de cinema, não perdendo um filme digno desse nome que passasse nos cinemas que por ali existiam, nessa época como cogumelos.

Por outro lado, como poderia esquecer esta época da minha vida, pois foi nesse mesmo tempo que eu ainda sem idade legal, mas com aparência, consegui entrar pela primeira vez no histórico cinema Olímpia. Na época, esta sala era considerada a verdadeira catedral do cinema pornô, e foi logo ali que entrei para ver o meu primeiro filme pornográfico. Foi também ali, e ao mesmo tempo, que me lembro de ter tido o meu primeiro contato visual com o chamado mundo gay, que nesse tempo era algo assim a modos que secreto e muito envergonhado.

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Naquela época muitos cavalheiros, faziam-se passar por bons e dedicados chefes de família, mas ao mesmo tempo procuravam uma ida ao cinema Olímpia para poderem dar uma saída, ás suas frustrações emocionais, e muitos deles mesmo de opção sexual.

As sessões eram de projeção continua, e favoreciam assim o satisfazer de alguns dos seus desejos mais íntimos, mas aquilo que eu desconhecia era que ao mesmo tempo, um certo e determinado, grupo especial, e com outros gostos sexuais, aproveitava o espaço para também dar saída aos seus refinados gostos.

Assim, logo que entrei na sala, desde logo me apercebi de que alguma coisa não funcionava normalmente, como em outras salas de cinema onde já entrara. Ou melhor, funcionava demais, pois toda a sala estava como que em constante movimentação, dividida aos pares, e com espaçamento entre os casais e ao andar pela coxia fora para procurar uma fila sem casal veio a confirmação, daquilo que já suspeitava, quando entrara e consegui, através da penumbra observar um casalinho masculino em posição muito pouco recomendável para quem quer ver um filme, numa sala de cinema, ou seja um deles estava a deliciar-se a chupar o pênis do outro, como se estivesse a chupar um gelado.

Outros casais, por vezes quase que nem necessitavam de ter despendido o dinheiro de duas entradas, para assim disporem de duas poltronas, pois só uma bastava.

Nessa altura pensei para comigo, mas afinal que raio, estes gajos vem aqui para ver o filme, para verem as mulheres a fazer sexo na tela, ou para se comerem uns os outros.

Entrei no local errado, na hora errada, e no dia errado!

Na verdade ali não tinha nem dia nem hora errada, era sempre igual.

Aquele tipo de salas tinha os seus rituais, e um dos que deu logo para observar e entender era o vai e vem constante em direção aos WC’s. Levantavam-se um, e passados segundos um e mais outro e seguiam em direção aos WC’s, e depois mais um e outro, sempre esta seqüência sem parar, num vai e vem constante, e com origem nos mais variados pontos da sala.

Se me perguntarem do que constava o argumento do filme, é impossível descrever, pois aproveitei para observar toda aquela envolvente, puramente cultural e de índole sexual, e também porque 99% dos filmes pornográficos não são possuidores de qualquer argumento, apenas sexo e mais sexo, puro e duro.

Recordo o titulo “branca de neve e os sete galifões”, ou algo muito parecido. O filme era igual a todos os outros filmes pornô, ou seja: sem historia, com sexo, sexo e mais sexo, com um bacanal aqui e uma atuação a 3 ou 4 ali. Eu ao fim de uns bons vinte minutos de observação simultânea com o espetáculo da atividade da sala bem como umas trinta ou quarenta posições variadas da atriz principal e de ficar deslumbrado com os diálogos muito poéticos e profundos em termos utilitários com os sim!…, Hui!…, Ai!…, Oh Não!…, vai, sim, por favor!…, quero todo!…, e claro os importantes e imprescindíveis Fod……, Cara…….., e afins, resolvi que estava esclarecido e pronto fiquei batizado em definitivo, quanto a esse gênero cinematográfico e também ao modo de funcionar do cinema Olímpia, que mais parecia um bordel sem camas.

Recordo que pouco tempo mais tarde voltei a entrar ali para ver o filme mais esperado da época “último Tango em Paris”, e acabei por ficar agradavelmente surpreendido pela mudança de publico e de comportamentos, e também porque esse filme não é pornográfico. Para mim é dos melhores filmes eróticos que pude ver até hoje, com historia, principio, meio e fim, bons atores, e sem duvida com algumas cenas originais de que obviamente destaco a famosa cena da manteiga no sexo anal do inigualável Jack Nicholson acompanhado pela saudosa Maria She.

Os filmes eróticos são outra visão do cinema, e esses só passavam em outros cinemas, nesses tempos o velho Rex era um bom exemplo, com a Emannuelle a ser desempenhada pela muito bela Silvia Kristel, que era o top 100 da época, e que para além da imensa beleza natural da atriz e das paisagens escolhidas, tinha ainda umas bandas sonoras imperdíveis.

Na minha vida voltei a entrar no celebre cinema Olímpia, ainda uma outra vez, para ver o mitológico filme “Garganta Funda”, esse sim um filme pornô que consta da historia do cinema por variadas razões de aproveitamento das potencialidades tanto dos atores como da capacidade do realizador.

Foi então assim que nasceu a minha paixão pelo cinema de qualidade, a descoberta do bom cinema no Politiema no Condes, Éden, S. Jorge, nas salas do Rossio, Nimas, Estúdio e tantas outras salas históricas, muitas delas já desaparecidas. Foi nessa época que iniciei a exploração das diversas fases do cinema que passaram pela descoberta dos bons realizadores americanos, dos franceses, suecos, alemães, e mais tarde pelos japoneses.

Foi devido, por incrível que possa parecer, ás maquinas de café Cimbaly, que eu passei anos e anos e muitas horas dentro das salas escuras de cinema. Alguns dias de quatro a cinco sessões seguidas, e depois chegava a correr, como um autentico velocista toda a Rua da Prata ou do Ouro e o Terreiro do Paço, para tentar não perder o ultimo barco com destino ao Barreiro, após mais uma sessão da meia noite, que, naquela época para minha felicidade muitas vezes se iniciava ás 23.30 horas ou ás 23.45 horas, e que obrigavam a contar todos os minutos e segundos para tudo bater certo com o transporte para casa.

Tinha que escolher para a última sessão de cinema, uma sala com alguma proximidade geográfica ao Terreiro do Paço, e muitas vezes, mesmo assim, corria o serio risco de ter que dormir na porta da estação fluvial, aguardando a sua reabertura para assim apanhar o primeiro barco com destino a casa.

Ainda recordo o dia em que calculei que seria capaz de conseguir assistir a uma ultima sessão, no cinema Nimas, que ficava ali para os lados de Alcântara, e chegar ainda a tempo de conseguir apanhar o ultimo barco. A previsão foi errada, e por muito rápido que o carro elétrico tivesse andado e eu corresse pelo Terreiro do Paço fora, mesmo que fosse a voar no cavalo do D. José, já só deu para ver o barco zarpar do pontão, com as portas da estação a fechar.

Acabei por ali ficar, como mais um paria da sociedade, na nobre companhia dos filhos da noite, que são os vagabundos, prostitutas, bêbados, maridos sem família que se recolhiam sob o telheiro da entrada. Eu por ali fiquei um pouco mais de três horas, a aguardar o primeiro barco da manhã, desanimado com a espera e algo incomodado por algumas companhias menos agradáveis que pernoitaram ali próximas, mas interiormente satisfeito por mais um bom filme que tinha tido o privilegio de assistir.

O Nimas naquela época, foi uma sala de cinema e espetáculos, que chegou a ser considerada uma das melhores de Lisboa, e dava cartas em termos de qualidade capital, e claro que merecia uma madrugada passada ao relento na porta da gare marítima do sul e sueste.

Com a minha independência e livre determinação alcançada no dia do meu décimo segundo aniversario, eu sabia que poderia entrar tarde em casa. Neste caso era entrar bem cedo, mesmo ao romper do dia. Para isso bastava um simples telefonema a comunicar, e ao longo dos anos assim fui procedendo e nunca em nenhuma ocasião pude ter razão de queixa, muito embora essa noite no Nimas fosse já nos anos 80, eu desde que fui responsabilizado pelas chaves de casa, com uma dúzia de anos, nunca dei razão de falta de confiança aos patronos da casa.

Os anos foram passando e os tempos passados na Rua Sebastião Saraiva Lima em contato com a loja e outros negócios do meu pai viraram memórias. A minha vida e a sua tomaram outros rumos, passando sempre a minha por uma crescente independência pessoal.

Ao longo do tempo nunca fiquei preso a cargos, lugares ou empregos, por isso a minha vida profissional é em larga medida num determinado período diversificada.

Consegui ser empregado comercial, ocupar tempo numa empresa de construções e manutenção de equipamentos, que era do meu irmão, gerir um bar de um primo meu, situado no alto Minho em Ponte da Barca. Ele era de tal forma, ocupado, que nem dos seus negócios conseguia tomar conta.

Ainda consegui ser profissional da comunicação social escrita e falada entre muitas outras coisas, até ter virado funcionário publico.

Alguém que me conheça acredita que eu algum dia possa ter sido vendedor. Pois é mesmo verdade, e logo eu que detesto vendedores, já fui um dia um vendedor, e relações publicas de uma firma de produtos químicos, maquinas e equipamentos para a agricultura. Um emprego muito bom em determinada época da minha vida, e que me transformou num autentico playboy da época, com direito a automóvel e cartão de credito da firma, para me poder deslocar á minha vontade e com um generoso ‘plafond’ para despesas, que eu por muito que tentasse nunca conseguia esgotar.

Foi um período muito interessante, pois permitiu ganhar um manancial de conhecimentos técnicos e pessoais, espantoso, para além de que ao longo desse tempo o meu ordenado mensal era deveras aliciante, e ao final de cada mês, por muito dinheiro mal gasto?!, por muitas borgas em que eu participasse, conseguia chegar ao final de cada mês sempre com aumento do saldo de reserva da conta bancaria.

Mas eu assumo que sou mesmo um ser extraordinariamente insatisfeito, e para mim os desafios da vida são uma constante atração, a que nunca consigo resistir. Assim por minha iniciativa mudei para uma firma internacional franco belga, como coordenador dos seus contatos com produtores da região da Cova da Beira, e na chamada zona dos Saloios nos arredores de Lisboa.

Um novo desafio com mais regalias, maior ordenado, mas também mais trabalho e responsabilidades e menos tempo livre. Claro que como jovem a minha vida exigia outros caminhos, outras aventuras, e ao fim de algum tempo estava já livre de todos esses encargos, pensando antes na vida e como viver e gozar a vida o melhor possível. A Europa chamava por mim para dois anos de constantes desafios e aventuras.

Importa ainda ressaltar, a importância e relevância da presença, da iniciativa própria e os muitos fatos que, direta ou indiretamente, ao longo da vida me tem levado a não temer as mudanças tanto laborais como pessoais.

A minha passagem pelo Ministério do Trabalho, como Coordenador do Programa ATD, no Centro de Emprego do Barreiro, foi determinante para definir que no meu entendimento a função publica, mais do que pudesse cumprir a minha vocação profissional, era sem duvida uma garantia de estabilidade pessoal ao longo do tempo.

No entanto; a coordenação desse programa ocupacional foi algo que acabou por me dar muito prazer pessoal, pois dessa forma pude tomar conhecimento de muitas realidades sociais encobertas. Ao mesmo tempo também foi uma forma para me ser possível tentar ajudar 586 pessoas que estavam desempregadas á mais de um ano, os chamados desempregados de longa duração, e que iriam assim ter uma oportunidade de emprego, numa entidade ou empresa, com alegadas possibilidades de futuro em termos de colocação profissional.

Ao longo do tempo fui infelizmente tomando conhecimento com a dura realidade do aproveitamento humano, que tanto ao nível da própria gestão do Centro de Emprego como ao nível das entidades envolvidas, apresentavam varias situações muito pouco abonatórias.

Assim a maioria das entidades, na sua maioria as publicas, mais não queriam do que utilizar a mão de obra barata, e em larga medida subsidiada pela CEE, e no final de cada projeto, não manifestavam a mínima intenção de contratar alguém.

Aproveitavam assim as verbas comunitárias, de um modo descarado e vergonhoso, serviam-se das pessoas como números e no final, como se fossem mero lixo humano, eram mandadas embora, regressando aos ficheiros do Centro de Emprego, como desempregados em busca de emprego, tal como antes. Por outro lado o País mostrava estatísticas de desemprego enganosas, com abaixamento percentual devido a esses falsos empregos.

Foi assim que Portugal, anos a fio, mentiu com as taxas de desemprego tanto a nível nacional como internacional, e esbanjou muito dinheiro vindo da Europa, para ser utilizado em programas específicos de criação de empregos, que na realidade acabavam por não criar empregos quase nenhuns.

Assim os muitos ou poucos empregos que conseguimos arranjar para essas pessoas foram todos em entidades privadas, quando a Câmara Municipal do Barreiro e as Juntas de Freguesia, Finanças, Bombeiros e outras entidades publicas não contrataram rigorosamente ninguém.

Foi para mim uma frustração pessoal, ver bons profissionais voltarem ás listas do desemprego, depois de largos meses de bons desempenhos nas diversas entidades.

Por outro lado o dia-a-dia no Centro de Emprego acabou por nos deixar tomar um contato diferente e aprofundado com aquele mundo, de um modo real.

Naquela época o Centro de Emprego do Barreiro era dirigido pelo famoso Sr. Barbosa, que não tinha as necessárias habilitações para ocupar o cargo. Um mero delegado político, e que por ali se mantinha apenas devido a uma nomeação política, que olhou mais para a pessoa e muito menos para a sua capacidade, neste caso para a sua larga incapacidade para ocupar o cargo.

Na verdade quem o nomeou para aquele cargo nem devia saber como era possível manter um alcoólatra á frente dos destinos de uma entidade publica, que ainda por cima tinha a responsabilidade de movimentar milhares de contos mensalmente, em diversos projetos e ajudas diversas.

O meu choque pessoal com essa personagem foi algo que acabou por surgir de um modo natural, face á minha personalidade.

Assim quando, para além de outras decisões absurdas, iniciou uma perseguição pessoal a alguns funcionários, sem qualquer razão profissional para isso, eu não me pude conter e o embate foi assim radical, com uma larga discussão no seu gabinete, que eu e o Rui Vilela invadimos, e a que não me faltou o apoio de larga maioria dos outros funcionários.

Essa situação só não se tinha verificado anteriormente apenas por mero medo de represálias. Agora sentindo força e liderança, não resistiram e naquele momento mostravam a sua posição sem receios. Por outro lado, a ajuda do Coordenador do programa OTJ, o Rui Vilela foi também determinante. Nós os dois acabamos por fazer frente ao individuo, no seu próprio gabinete, que colocado perante algumas falcatruas, que já tínhamos conseguido descobrir, em alguns programas e projetos, teve que recuar nas suas intenções ditatoriais.

Foram meses de constante conflito, ainda mais que o individuo após o almoço estava sempre incapaz para tomar alguma decisão, em virtude das monumentais bebedeiras que apanhava no Restaurante do Manuel da Luz.

Essa minha passagem pelo Ministério do Trabalho foi também importante, pelo fato de que foi ali que mantive com a Filomena, a única relação pessoal com uma colega de trabalho, muito embora ela e eu não tivéssemos qualquer relacionamento profissional direto.

O Ministério do Trabalho foi sem duvida uma experiência importante para mim, pelos conhecimentos pessoais, e profissionais conquistados e também pelo meu aumento de conhecimentos ao nível humano.

Por outro lado como que não descansei enquanto não foi possível colocar o nomeado diretor, totalmente sem capacidade para ocupar o cargo, no seu devido lugar, ou seja; onde a sua parca capacidade e conhecimentos profissionais eram legítimos em termos de ocupação.

Poucos anos mais tarde, surgiu essa possibilidade a nível político, e no que de mim dependeu, não tive qualquer duvida; e dessa forma assim foi devidamente corrigida aquela ilegalidade, que chegava ao ponto de permitir que ele, com menos qualificação profissional, pudesse estar a dirigir funcionários bem mais qualificados do que ele, como era exemplo o Sr. Ribeiro, um funcionário com um estatuto e uma postura moral e profissional muito superior á sua.

Com a nomeação da Drª Mercês Borges como Diretora do Centro de Emprego do Barreiro, e com deslocação do Adalberto Barbosa para mero técnico de emprego, tudo foi corrigido. Tarde e más horas, mas foi corrigido!

Devo salientar que a minha passagem pelo Ministério do Trabalho, foi até ao dia de hoje, o único cargo profissional que ocupei, por nomeação política.

Sempre entrei profissionalmente nos diversos cargos por via de concurso publico, ou por concurso e entrevista nas empresas privadas, por isso á política nada devo em termos de colocação profissional ou de qualidade de vida, antes pelo contrário.

A minha chegada ao Ministério da Saúde, em 1989, dá-se por mero acaso, devido a um convite para concorrer a uma das três vagas que tinham sido abertas na Administração para onde acabei por concorrer e ficar colocado durante 12 anos da minha vida. Mais uma vez saí por minha livre e espontânea vontade e iniciativa. Acho até que; se em 2001, não tenho concorrido para o Ministério da Educação, no dia de hoje por certo, ainda estaria naquele mesmo local.

Foi com o Dr. Domingos Nabais, que comecei a trabalhar no Ministério da Saúde, naquele já longínquo ano de 1989. Um homem que me deixou muitas e gratas recordações como profissional exigente e excepcional para além de profundamente competente e ao contrario do que muitos possam pensar, extraordinariamente humanista. Um Administrador Hospitalar como já não existe mais. O molde com que foi fabricado o Domingos Nabais, na Escola Nacional de Saúde Publica, deve ter-se perdido, por isso apesar de ter trabalhado com muitos e categorizados profissionais, que me perdoem todos os outros, mas foi com ele que realmente mais gostei de trabalhar, devido á sua competência e dedicação.

Ademais, o volume de trabalho que conseguia dominar, era altamente qualificado e rigoroso no tratamento de todos os assuntos. Era um Administrador que levantava a “bunda” da secretaria e ia aos locais verificar, in-loco, o que realmente se passava, o que a grande maioria jamais fez ou algum dia fará.

A nossa amizade pessoal conseguiu resistir até ao dia de hoje, e inclusivamente a quinta onde hoje habita, situada no Alentejo, foi por mim negociada para ele, através de outro grande amigo, o Alberto Carreira, que hoje anda por terras de África nos confins da antiga colônia portuguesa de Moçambique, como fazendeiro e industrial de arroz.

A vida é uma soma de equívocos e acertos, a minha entrada para o Ministério da Saúde foi uma soma de todas essas condicionantes.

Ao longo dos doze anos que acabei por passar no Hospital de S. José em Lisboa, pude observar conclusivamente a importância dos conhecimentos ali adquiridos enquanto ser humano. Foram sem duvida muito mais os acertos do que os equívocos, e também posso confirmar que eu em nada estou arrependido com a minha postura perante as muitas situações ali vividas.

Visão e entendimento que eu tenho a certeza não pode ser compartilhado, infelizmente, por alguns funcionários, em especial Administradores Hospitalares que passaram por aquela instituição e não deixaram grande obra feita, pelo contrario na sua maioria deixaram mais problemas para resolver do que os que encontraram quando passaram por debaixo do arco da porta principal.

Ainda bem, para felicidade de muitos cidadãos, que as suas gestões foram fugazes. Ironia á parte, acredito mesmo que no geral alguns eram tão limitados nas suas capacidades profissionais que exerceram os seus cargos cientes de que a sua prestação era algo de muito importante para a humanidade, diria mesmo imprescindível, se bem que da sua passagem nada resta para testemunhar por ali terem andado.

Posso até dar testemunho, pois tive a sorte de poder observar de muito perto, alguns desses comportamentos de gestão desastrosa, e confirmar que lamentavelmente, uns poucos se acabaram por perder na boçalidade, no ‘empavonamento’, e acabavam mesmo por acreditar que; a autoridade dos cargos, por eles exercidos era um poder delegado segundo quase uma concessão divina.

Nesse chamado ‘olimpo’, muitos fazem justiça á ultima piada segundo a qual muitos acham que são Deus e outros tem a certeza!

No final das suas carreiras, normalmente com o som da aposentadoria a bater-lhes á porta, ou o fim dos tempos, do tempo em que tudo queriam comandar, a larga maioria acabou por ser comandada ou pura e simplesmente afastada, tal a quantidade de asneirada produzida ao longo de uma vida.

A irreal imagem cotidiana era tão implícita que; não dava mais, em alguns casos, para se conseguir ficar calado, pois as asneiras não aconteciam só pela via econômica, mas se processavam de forma mental, atingindo muitas vezes a postura dos funcionários, o que para mim constituía um atropelo á própria condição humana, com claros indícios de desumanidade, dando quantas vezes rasteiras do mais baixo calibre.

Alguns destes tristes exemplos foram visíveis, em pessoas como o Dr. Sá de Almeida, ou como o Dr. Victor Fonseca, Administrador Delegado, que depois de se confirmarem como autenticas lesmas, em termos de Gestão Hospitalar, tinham ainda o terrível defeito de tentarem pessoalmente comer rodelas de iguarias á mesa do orçamento, utilizando para isso todo o gênero de artimanhas.

Precisamos refletir hoje mais seriamente sobre os diversos processos do passado, para assim chegarmos a uma análise mais conclusiva, sobre alguns dos métodos utilizados, que passavam por claro beneficio de concorrentes em concursos em troca de benefícios pessoais ou materiais, por isso muitas vezes se deixaram alienar por futilidades e esqueceram o principal; as idéias, o pensamento, a essência, alheios a tudo e julgando os outros pelo que têm e não pelo que são, ou possam valer realmente, quando devidamente aproveitados.

Esse tipo de gente, tão comum a nível profissional, mais até do que se possa imaginar, aproveita-se, sobretudo dos tontos, que fazem da vida um espaço em que não estudam, não pensam, não ousam mudar nada na sua situação ou na situação geral, uma situação aterradora e cheia de corrupções e falta de ética.

Foi por tudo isso que eu cheguei a um estagio como funcionário em que não só decidi participar na tentativa da mudança, mas também passei a questionar, incomodar, contestar, revolucionar e para isso candidatei-me ao Conselho Geral do Hospital de S. José, com total êxito, uma vez que fui eleito por maioria logo na primeira volta das eleições.

Esse era o sinal de que a maioria queria mudar algo. E assim dessa forma passei a ser olhado pelo Conselho de Administração, como um inimigo a tentar abater, só que eu sou muito teimoso e duro, e difícil de me deixar abater, por simples cidadãos que usam a cabeça não para pensar. Usam a cabeça antes para colocar chapéus coloridos, para assim se disfarçarem e ficarem bem vistos na foto de família.

Foi desta forma que a primeira batalha foi iniciada, tendo como objetivo colocar a funcionar um órgão que não reunia á mais de três anos, quando a legislação obriga a que reúna obrigatoriamente no mínimo um bom par de vezes em cada ano.

Os Conselhos de Administração não queriam ser fiscalizados por órgãos independentes e incômodos, e para isso contavam com a clara conivência do Presidente do órgão, no caso concreto do Hospital de S. José, pelo famoso padre Victor Melicias.

Para mim era nessa época uma batalha dupla, pois com esse cavalheiro já estava a disputar outra luta ao nível das Misericórdias, devido ás irregularidades na Santa Casa da Misericórdia do Barreiro, a que ele dava cobertura e ainda hoje continua a dar.

Para aqueles que, pouco ou nada sabem; sobre a santíssima figura, é bom caracterizar que é um homem que está presente em mais de meia centena de entidades, incluindo Bombeiros, Clubes Desportivos, Associações, Mutualistas, Misericórdias, etc…

Para mim, sem qualquer temor reverencial, é considerado ao nível de um “Padrinho” da Máfia. Inclusivamente foi dele a idéia do chamado projeto Antonio Guterrez, que deu os resultados que deu em Portugal, com a chegada até ao limites do pântano.

Ele conduzia de forma determinante alguns setores políticos mais conservadores do Partido Socialista, do Partido Social Democrata e também do CDS/PP, por via de claras influencias diretas e indiretas.

As Misericórdias hoje são na sua maioria um conjunto de braços do imenso polvo que ele controla, e de que ele é a própria cabeça.

Estou certo de que num dia, que espero não muito distante, tudo se vai esclarecer, e todo o mundo vai poder confirmar a terrível importância nefasta deste individuo, que é extraordinariamente perigoso, quando se tenta tocar nos seus jogos de influencia.

É alguém que se movimenta de um modo esponjoso, nomeadamente á boa maneira, da velha casta, jesuíta, mas estranhamente, com muitas atitudes claramente maçônicas. Uma mistura algo estranha, um caldeirão de muitos interesses pessoais, econômicos e políticos que se movimentam, de acordo com as conveniências do momento, e do poder que domina cada geração ou setor.

Este estranho poder, poderia muito bem ser explicado por quem mais conhece o que se passa, e essa pessoa é o Padre Feitor Pinto, inimigo visceral do Padre Melicias, e que de forma indireta vai dando pistas, para o conhecimento desse enorme grupo “mafioso” liderado pelo Padre Franciscano, mais dado ás artes da gestão bancaria e á luxuria no vestir e no comer. Deve este tipo de indivíduos ser a nova imagem franciscana dos tempos modernos?!…

Felizmente que a minha passagem pelo Hospital de São José serviu ainda para reter bons momentos, e aulas de humanismo e competência, com o saudoso Diretor Dr. José Sá de Figueiredo, com a Drª Nazaré Reis Silva, com a Drª Matilde Pereira entre muitos outros.

Serviu também para registrar momentos de larga ironia e boa disposição, e a criação de amigos, que vão ficar para sempre, ligados á minha vida como; o Brazido, José dos Santos, Costinha, o Amaral, a Ana Trindade a Antonina, e muitos outros. 

Quanto a ironia e bons momentos, não posso deixar de referir a Alda que chegou ao serviço vinda do Hospital de Santa Marta, era uma pessoa simples, cordial, e que lamentavelmente vivia um drama familiar de entendimento com o marido.

Aproveitava o trabalho e a hora do almoço, para se libertar dessa magoa, e embora levasse todo o tempo a falar da prometida dieta, acabava por cair na tão famosa comidinha caseira, tipo arroz de pato, alheiras de Mirandela, bacalhau á minhota, pernil de porco, arroz de polvo, leitão á bairrada e outras iguarias do gênero, normalmente regadas com um bom vinho verde.

Durante algum tempo foi a minha companhia em alguns bons e agradáveis almoços, em que eu sentia que ela tinha o prazer de poder desabafar e também de degustar uma boa comida, em boa companhia, pois as minhas mesas eram diariamente; refinadas em termos de composição, e claro de boa disposição.

Por fim o trabalho, que de certa forma era o seu único escape foi trocado por uma ida para casa, pela solicitação pessoal de reforma, e ai sim o que ela achava que poderia ser uma solução para o seu casamento, e para a sua vida emocional virou um autentico tormento.

Nunca conheci ninguém que após a reforma se sentisse tão frustrada e com tanto desejo de retornar ao serviço.

Outra funcionaria que deixou gratas imagens tanto pela negativa como pela positiva e sobre a qual escutei alto e bom som argumentos de defesa que me causaram espanto e indignação, era a Benedita.

Uns alegadamente diziam que ela era assim porque estava sem as potencialidades próprias nos Serviços onde era colocada, acabei por me indignar, pois a referida senhora já tinha percorrido quase todos os serviços do hospital e o seu comportamento era sempre igual.

Alguns podem; estar-se a perguntar, ou a franzir a testa, sobre o comportamento, mas não tem qualquer duvida a senhora passava todo o santo dia de trabalho olhando para as paredes, ou admirando a paisagem através das janelas, ou ao telefone ocupando a linha falando com as colegas de outros serviços, ou com as amigas.

As contas telefônicas disparavam em todos os serviços por onde passava, uma vez que era colocada nos secretariados onde tinha acesso livre a linhas diretas.

Mesmo querendo ser um espírito livre, que não se enquadra com os chamados brios de profeta, não dava para agüentar mais a sua presença no serviço e assim foi colocada no Serviço de Sangue onde após uns quantos meses foi transferida para outro e mais outro serviço, e por ai fora sem parar.

Igual á Benedita, só mesmo a Almerinda que passou também pelo Secretariado do meu serviço, e se dedicava a chegar atrasada, perder ou destruir importantes documentos, desde que os mesmo significassem a possibilidade de trabalho extra para si, e claro também o terrível vicio do telefone. Para agravar ainda por cima utilizava o computador de uma das Administradoras para retirar material para os seus estudos de belas artes, e deixava os arquivos cheios de animais, bonecos e outros artefatos. Acabou também por ir parar ao Serviço de Sangue, que mais parecia em determinada época um autentico asilo de celebridades, a que a Chefe Maria Vaz se dedicava a tentar mudar em termos de comportamento e ação.

Quase todos, somos feitos da matéria das estrelas. Mas não estamos á altura do fulgor dos astros, talvez por isso a vida nos impõe muitos limites, e como se isso não bastasse, passamos grande parte da nossa existência confinados em limites que nós próprios nos impomos, para evitar alguns acontecimentos, que por vezes podiam prejudicar-nos, ou a outrem. Serve isto para dizer que o Dr. Gino adorava um bom almoço de entrecosto com arroz de feijão na tasca típica da Mouraria, e se mais vezes; não se repetiu esse repasto, foi devido ao fato de que como era sempre muito bem regado, ele acabava também quase sempre por apanhar uma grande bebedeira, o que em dias de reunião do Conselho de Administração era terrível para a sua imagem e reputação pessoal e profissional.

Acabava por passar a tarde a dormir sobre a secretaria, sem olhar para os imensos papeis e processos por ali espalhados a esmo, e muitas vezes nem comparecia ás reuniões, o que originava enormes atritos, para se conseguir desculpar as suas ausências.

Eu comecei a construir algumas muralhas de defesa, para desta forma colocar um freio de contenção, racionando e impondo alguma auto – estima e disciplina no Dr. Gino.

A sua passagem para o Hospital Curry Cabral foi tão benéfica para ele em termos pessoais como para o próprio serviço, muito embora as duas aves “Catatuas” que o vieram a substituir, no seu conjunto não conseguiam formar um único Administrador, tal o desastre consecutivo em que se emaranhavam todos os dias.

Não posso deixar de referir três casos humanitários, com que me deparei na dúzia de anos em que por ali passei, e também  um exemplo de como se deve cortar os males pela raiz.

Começo por referir o altruísmo de uma funcionaria a quem a Junta Médica negava consecutivamente a aposentadoria, mesmo consciente da neoplasia que a afetava, e que a acabou por vitimar, sem que recebesse um único mês de aposentadoria. Essa funcionária, que diariamente fazia um esforço tremendo para comparecer no seu local de trabalho, mesmo residindo bem longe, acabou por ser humanamente liberada das suas tarefas na Lavandaria Hospitalar, e de uma forma incrivelmente generosa, o Sr. Administrador Delegado permitia a assinatura da folha de ponto de um modo algo ilegal, mas humano, no final de cada mês. Na realidade ela estava já na fase terminal, e quase já nem conseguia andar, só mesmo algum medico da Junta Médica, perfeitamente desumanizado, conseguiria manter ao serviço aquela criatura, naquele estado.

Chegou então o dia em que seriamente pensei em dar um novo rumo á minha vida profissional, e dessa forma apresentei candidatura a uma serie de entidades que tinham aberto concursos públicos. Não existe fome que não acabe por dar em fartura, e assim aconteceu. Ao mesmo tempo; que fiquei aprovado para iniciar novas funções no Instituto da Água, também aconteceu o mesmo no concurso do ISCSP, em que fiquei em 1º lugar.

Era então uma mera questão de opção, e de imaginar o futuro em termos de carreira, por outro lado dois colegas meus ficaram fora das vagas, e com a minha desistência, a acontecer, um deles acabaria por entrar. Essa acabou por ser uma das questões que mais peso teve na minha decisão pessoal, e assim optei pelo Ministério da Educação.

Com a minha passagem para o Ministério da Educação, para o Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, uma nova etapa se abriu na minha vida profissional, passado uma dúzia de anos, ligado a uma mesma Entidade e a um mesmo Serviço.

Uma nova etapa, que virou um pesadelo, devido ao acumular de manifestas incompetências e atropelos á lei que ali fui encontrar, e que iriam de forma frontal contra a minha mentalidade e personalidade pessoal e profissional.

Se arrependimento mata-se, eu teria morrido umas dezenas de vezes, pois aquela Entidade era, naquela época, um verdadeiro ninho de “corrupção” e “clientelismo”.

As chefias eram ali nomeadas pelos favores que tinham prestado ao longo dos tempos, e pelo numero de trapaças que tinham encoberto a este ou aquele ex-responsável. E figuras como o então Chefe de Repartição, Acácio Almeida Santos, era um dos maiores exemplos de como um mero Continuo, sem o mínimo de preparação, pode chegar por via de nomeações administrativas, até um dos mais altos postos da Entidade, onde até o Reitor daquela época tinha medo da sua atuação.

Por outro lado o nepotismo era evidente, com a sua mulher a ser Chefe de Secção, alcançando esse mesmo cargo da mesma forma administrativa, em meia dúzia de anos, uma carreira feita á imagem do marido.

Depois surgiam as chefias; como o famoso Sr. Rodolfo, responsável pela área financeira, de tal forma competente que a maioria dos dias, no período da tarde, não estava disponível para tratar fosse de que assunto se tratasse, atendendo ás bizarras bebedeiras que ia apanhando, nas inúmeras tertúlias “benfiquistas”, em que todos os dias se; dedicava a despejar garrafas de puro ‘malte inglês’ e vinhos das mais reles categorias, passando assim do oito para o oitenta, como alguém esfrega um olho. Não posso, no entanto, esquecer que era muito habilidoso a nível de gestão, e até um largo “saco azul” conseguia manobrar, para dali pagar festas e almoços, sem contar com os inúmeros Seminários e Conferencias que eram organizados mensalmente, e de modo continuado, para assim proporcionar e justificar horas extraordinárias para os diversos funcionários seus afilhados.

Aquela Entidade encerrava figuras para todos os gostos, como o famoso Valentim, outra chefia, dedicado aos serviços gerais, a que não escapava a possibilidade de um favor de um rabo de saia que estivesse interessado em progredir na carreira, graças a um agrado no armazém de livros ou nalgum gabinete mais abandonado. No entanto funcionário feminino que não lhe fosse dedicado, desde logo era colocado debaixo do seu olho clinico e virado para a intriga, tal como aconteceu com a Filomena, a quem não agradaram as arremetidas emocionais, e que passou a ser vista como inimiga publica numero um.

Verdade se diga que uma Entidade com liberdade em termos de gestão, por via da sua autonomia, é algo que permite todo o gênero de barbaridades financeiras, como é o exemplo da aquisição de livros por grosso para alguns professores poderem fazer o bonito de oferecerem a seu belo prazer, gastando assim de forma incontrolada as verbas da Entidade, como acontecia com o digníssimo ex-Deputado da Nação, Professor Narana, que se dedicava a oferecer livros a quem muito bem entendia, com a cobertura e conivência das chefias de que dependia esse setor, e os olhos fechados do Reitor.

Durante os meses que ali permaneci, entendi muito bem o modo de funcionamento, de uma Entidade que era muito próxima da famosa Universidade Moderna, e onde nem faltavam os Professores de dupla colocação, bem como os amigos vindos dessa famosa escola da “aldrabice”, e que em devido tempo mereceram algum tempo de prisão para alguns habilidosos mais destemidos.

Se algum dia, um Ministro da Educação, digno desse nome, decidir exigir uma verdadeira sindicância ao ISCSP, vai ter uma surpresa terrível, pois estou certo de que muitas das situações ocorridas na Universidade Moderna, são como insignificâncias ou meras migalhas ao pé do que realmente por ali se passava, e em certa medida ainda deve ocorrer com algumas das personagens aqui retratadas, isto se ninguém soube colocar travão na ‘badernice’ ali reinante.

A minha transferência profissional para a ARS do Algarve, acabou por merece verdadeiras decisões de Estado com Despachos e Pareceres de Ministros da Saúde e Educação, Primeiro Ministro, Presidente da Republica, Provedor de Justiça, Comissões Parlamentares, e mais não sei quantas Entidades, até que finalmente foi liberada. Segundo o Senhor Reitor, se dedicava a assinava nos diversos Despachos, produzidos nos meus inúmeros Requerimentos de Transferência, eu era imprescindível para o Serviço, e portando ia indeferindo essa minha pretensão, alegando essa monstruosidade impossível de personificar, seja por quem for, pois ninguém no mundo é insubstituível, nem mesmo o Jesus Cristo para os Crentes.

Nunca na minha vida imaginei poder ter tanta importância para uma Entidade, como a que vim a ter para o ISCSP.

Foi um ano tumultuado aquele que passei no Ministério da Educação, no ISCSP, e só a grande força de vontade e temperamento guerreiro me acabaram por possibilitar a vitória de um regresso ao Ministério da Saúde, agora colocado no Algarve, no Sul de Portugal, longe da confusão da grande cidade capital.      

Foi dali que passados 4 anos de serviço efetivo, parti para esta grande aventura nas Américas, onde me encontro à cerca de dois anos, e de onde neste momento penso ser resgatado, pois mais uma vez, como sempre na minha vida, me sinto um insatisfeito, querendo retornar ao serviço efetivo. Tal como o meu pai ao longo da sua vida profissional, também eu acho que estou destinado a trabalhar até bem tarde na vida, pois faz parte da minha mentalidade, da minha cronologia profissional, e não vai ser agora que a vou interromper.

As minhas saudades do estresse diário, dos montes de papeis para despachar, dos problemas para em tempo útil resolver ou se possível antecipar na sua solução para que não cheguem a ser verdadeiros problemas. As saudades do convívio diário com os colegas e amigos que se vão criando e enraizando na nossa vida pessoal e profissional, tudo isso faz com que pense muito seriamente em voltar a sentar-me a uma secretaria com leis e ordens para cumprir, dedicando umas quantas horas diárias aquilo de que desde 1974 realmente não tenho medo e sei fazer; ou seja:

Trabalhar!

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Quem cedo aprende a sorrir percebe, logo desde cedo, que a nossa vida tem mais doçura do que amargura. A nossa vida será sempre um constante desafio, e não podemos nunca perder de vista o lado bom das coisas, sobretudo do amor.

Ao longo da vida emocional alimentamos esperanças, sonhos, e muitas vezes para onde olhamos nada vemos, embora as soluções estejam lá, bem na nossa frente.

O nosso dia-a-dia, o nosso quotidiano é uma espécie de constante campo de batalha, e sabemos que nada é fácil nesta vida, sobretudo em termos emocionais na conquista da tão almejada felicidade.

Muitas vezes lutamos só contra a solidão, outras vezes, mesmo no meio de uma multidão, lutamos para não perder coisa alguma, porque na verdade ainda não temos nada, mesmo quando pensamos que já temos tudo na vida.

No entanto nunca é fácil estar de pé no meio dos escombros da vida, sobretudo quando esses escombros são pedaços dos nossos sonhos.

É muito difícil levar a vida sorrindo, quando existem fartos motivos para abandonar a luta e não tentar superar todas as forças contrarias ás nossas realizações, sobretudo as afetivas.

Tantas e tantas vezes perante o desastre emocional procuram-se respostas e elas não vêm.

Tantas e tantas vezes perguntamos porque? E nada! Ninguém nos responde!…

Ao longo da minha vida já várias vezes, perguntei a mim próprio:

Porque?

Mas Porque?

Mas que atitude mais patética, pois como vou eu próprio responder-me, e conseguir entender.

Mas em 1984 eu perguntei mais uma vez a mim próprio: porque?

E acho que consegui uma resposta, que passados todos estes anos… e fazendo que estava completa e correta. Perguntei porque amava uma pessoa, porque sentia que continuava a amar essa pessoa mesmo depois dela ter partido para nunca mais voltar em termos físicos, e só encontrava uma resposta:

“Amar é uma questão de decisão, uma atitude cultivada ao longo do tempo”

Nessa época da minha vida até por vezes quis deixar de ser quem realmente eu era.

Fugir de dentro de mim próprio, ser um outro eu, um outro alguém parecido no entanto comigo, mas com outros sentimentos, mas foi impossível, era muito mais forte do que eu, porque eu gostava de mim. Eu ainda hoje gosto muito de mim próprio como sou!

Hoje continuo a ser eu mesmo, e passados todos estes anos, bem mais de vinte anos, eu consegui finalmente ousar ser feliz como sou agora e aceitar-me a mim mesmo com todos os meus defeitos e virtudes e tudo o mais a que acho que tenho direito.

Muitos de nós não o conseguimos entender, mas a causa de muitos dos nossos problemas sociais e emocionais é tão simplesmente pelo simples fato de que muitas vezes não gostamos de nós mesmos.

Não gostar da nossa personalidade, auto- comparação com outras pessoas, desejar ser diferente, fugir de nós mesmos, é o pior inimigo de nós próprios.

Se eu em 1984; não tivesse conseguido sentir-me seguro em relação a quem era de fato e de verdade, nunca poderia ter-me sentido depois de tudo pelo que passei, melhor comigo próprio.

Fui verdadeiro comigo mesmo, e assumi que não tinha que agradar ao mundo inteiro, tinha, sobretudo, que me agradar a mim mesmo.

Para poder desfrutar da vida de um modo pleno e confiante, aprendi a confiar totalmente na pessoa que realmente sou.

Assim, nunca deixo que as pessoas me tentem pressionar a ser, ou fazer aquilo, que não quero. Ou que tentem que me sinta mal em relação a mim mesmo, pelo simples fato de não me encaixar na imagem de quem elas acham que eu deveria ser.

Isso seria o mais ridículo possível, passar a vida a tentar ser outra pessoa, seria o mesmo que uma peça de imitação, uma copia, e não eu sou mesmo o original.

Talvez que entre outras coisas o fim do meu casamento de 18 anos com a Fernanda tivesse um pouco que ver com essa luta de tentarem fazer de mim uma copia alterada, um clone com novas potencialidades, quando eu sou mesmo o original.

De forma alguma me sinto mal pelo meu caráter e personalidade tão peculiar e original, com os meus gostos e ‘hobbies’ muito pessoais, que fizeram de mim a pessoa que realmente eu sou, e não uma outra pessoa que não teria rigorosamente nada que ver comigo.

Quando regressei a Portugal em Dezembro de 1984, da minha primeira grande viagem pela Europa, eu vinha diferente, era já mais eu!

Quando em 1980 eu conheci Dulce, eu era um pouco menos eu, não que o meu caráter ou personalidade fossem diferentes, no entanto acho que não estavam na sua totalidade desenvolvidos suficientemente para me possibilitar ter uma capacidade de auto-visão de mim próprio, capaz de me assumir mais como eu.

Era assim como passar a ter capacidade de quantificar o quanto os meus sentimentos vivem e sentem perante novas ocorrências. Só pude constatar isso em Dezembro de 1984 e tudo graças a um fato que mudou toda a minha vida.

Para melhor definir isso, eu adoro uma frase do Premio Nobel da química de 1977, Ilya Prigogine:

“Os paradoxos da mecânica quântica podem muito bem ser considerados como pesadelos da mente clássica”

Ninguém pode viver preso ao passado, até que pode, mas não deve. Sobretudo, quando esse mesmo passado evoca algumas lembranças emocionais de certa forma traumáticas.

Em 1980 eu conheci aquela mulher no Externato Moderno, propriedade dos Professores Fraguas e Barbado, ali na Avenida da Republica, hoje aquele edifício ao lado da carpintaria que fazia esquina com a Rua Combatentes da Grande Guerra, não existe mais, está lá no seu espaço físico um prédio ultra moderno.

Tão pouco o Professor Barbado com os seus óculos ‘garrafais’, ainda por ali anda fisicamente, agora só mesmo na nossa saudosa recordação, e o Professor Fraguas, com os seus dedos minúsculos de uma das mãos, é também já uma saudosa e grata recordação.

Foi ali que um dia ao entrar, na companhia do meu bom e grande amigo António Manuel Castro “To-Mané”, eu vi pela primeira vez aquele raio de luz de cabelos longos, estatura media para o baixo, emanando alegria debaixo daquele seu sorriso e olhos penetrantes. Sem duvida foi logo ai que eu senti algo diferente, e como essa mulher iria ser realmente a mulher da minha vida. Ela tinha tudo com o que eu sonhara em termos físicos para um dia poder vir a ser minha mulher, e por outro lado em termos emocionais foi como que uma explosão imediata, e então era logo ali que eu a ia encontrar!

Então eu que estudava no Liceu dos Casquilhos e apenas ali ia recolher apoio no estudo, para melhorar algumas notas, eu que estava rodeado de tantas mulheres, até bem mais belas, tanto no Liceu como no meu dia-a-dia, e tinha que ir ali para encontrar aquele fenômeno.

O “To-Mané” soube na hora que aquela era a mulher da minha vida, era a mulher que tinha parado a minha vida de namoricos, era ela a responsável pela chamada “crise”, e dessa forma todos brincavam comigo; o Jorge Santana, o Seixas e outros colegas e amigos, claro que brincavam porque eu fiquei vidrado, para não dizer apalermado.

Não foi no entanto fácil chegar até ao seu conhecimento.

Ela era um furacão, era fugidia, irônica no trato, bem temperamental, e mesmo depois de eu fazer amizade com as suas colegas e amigas, Ana Caetano e Isabel, ela continuava a mostrar-se reservada.   

De repente, caminhando debaixo destes tempos de nevoeiros e nebelinas, dou-me conta de que o mundo em redor é ótimo.

Cá entre nós, fiquei na duvida se deveria ou não compartilhar com vocês essa importante etapa pessoal da minha vida, que me fez viajar ao passado de muitas lembranças e lições de vida. Por outro lado, deixar de reconhecer publicamente esse “capitulo” que teve como protagonista a Dulce, me pareceu tremendamente injusto.

Então tomei a liberdade de ir em frente, sem a pretensão de fazer mais do que o melhor, mas com a sinceridade e a gratidão do meu coração.

É isso, a vida não passa mesmo de um comboio, cheio de embarques e desembarques. Não importa, é mesmo assim a viagem, cheia de atropelos, sonhos, fantasias, esperas, despedidas, porem jamais tem retornos.

O grande mistério desta viagem é afinal nunca sabermos em que paragem vamos descer, e muito menos os nossos companheiros de viagem, nem mesmo os que por algum tempo viajam mesmo ali ao nosso lado.

Embora tenha sido uma viagem relativamente curta no tempo, eu ficarei sempre muito grato por ela ter feito parte da minha viagem, e da minha vida, e ter contribuído para uma viagem bem mais valiosa.

Por certo no futuro, e por mais que os nossos assentos nunca mais voltem a estar situados lado a lado, com certeza numa outra viagem, se ela existir, a carruagem, o vagão vai ser o mesmo.

Foram dias e dias de luta interior, no estudo da melhor forma de conseguir romper com aquela indiferença.

O grupo ia tomar o pequeno almoço ao velho Café Centenário, em frente da Câmara Municipal do Barreiro, fomos nós alguns dos que o inauguramos aquele espaço, quando ainda tinha um balcão em curva no centro da casa, e eu lá aparecia, sentando-me ao balcão ao lado delas, e tentando sempre conseguir uma palavra, um simples; ola! Um bom dia! Mas nada, ela olhava, gracejava com as amigas em voz baixa, mas nada. Eu bem que tentava entabular conversa, mas nada!

Que pateta eu era nessa época, ai sim eu queria ser outro eu, outra pessoa, mas sem saber bem quem deveria encarnar. Na verdade ela não tinha namorado em quem eu me pudesse olhar, e então puder fazer o comparativo. Pensava em tudo, em tantas idéias, em tantas soluções…

Hoje claro que pensando nesse passado eu só posso sorrir. Seria da roupa? Será que os blusões eram desportivos demais? Mas ‘caramba’ eram iguais aos que todo o mundo usava! E as calças? Talvez fosse da ganga; mais clara ou mais escura, bem que poderia ter influencia! Até pensei em trocar de marcas, e vestir outras marcas, mas quais, quem poderia saber.

Talvez mesmo dos sapatos! Poderia ser sim dos sapatos, deveria eu passar a calçar tênis, outro tipo de sapato, ou de cores, porque em vez de castanhos deveriam ser pretos, sim pretos talvez fossem os que ela gostava mais.

Também poderia ser do corte de cabelo! Do comprimento, quem sabe se não mais longo, ou então mais curto, ou da própria cor!

Não isso da cor, eu jamais iria agora mudar de cor de cabelo. Era a minha cor natural, e nunca por nunca iria pintar o cabelo, ainda para mais nem sabia de que cor ela gostava…

Mas que ‘merda’!!!

Mas que grande ‘merda’ a minha vida nesses anos 80!!!

Uma vida de ‘merda’, sempre com o coração acelerado quando a vejo, e nada sai de positivo para mudar algo.

Ah, se o tempo voltasse atrás!

Ah, se eu tivesse tido mais tempo!

A nossa vida é tão efêmera quanto a passagem de uma nuvem pelo céu. É como uma neblina que, de manhã aparece e, ao fim da tarde vai embora. Um vapor!

A neurose da vida, a pressa de viver, rouba de pais e filhos e amores o tempo de se cuidarem mutuamente e faz com que muitas vezes percamos tempo demasiado com pequenos fatos esquecendo a importância de gozar os que realmente mereciam essa grande atenção.

Depois de tudo o que me aconteceu, ganhei um lema que é fazer o bem enquanto aquele de quem gostamos esta vivo, depois é já demasiado tarde. Alguns só se lembram dessa situação por ocasião da morte, ai essa lembrança é já inútil.

Que virtude pode ter alguém que passou pela vida e não fez amigos, e viveu isolado, na companhia da solidão?

Nenhuma virtude!

A pressa doentia nos rouba o tempo necessário para a melhor de todas as experiências sobre a terra: Viver! Viver!!!

Mais do que um simples ato biológico, a vida é afetividade, uma oportunidade única para amar e ser amado!

Achava que ela gozava comigo quando falava com as amigas.

Então um dia, sem eu poder imaginar nada, fui tomar o pequeno almoço ao mesmo local de sempre, e que estranho, só lá estava ela, ainda hoje não sei se foi prepositado, combinado entre elas. Só ela sentada o balcão.

É agora, pensei eu!

Sento? Não sento?

Dou bom dia? Não digo nada?

Deve ser uma má educação nada dizer, e perder uma oportunidade de escutar a sua voz, ou ver que ela nem me dá os bons dias!

Que faço?

Então João, entro ou não entro no café?

Enchi-me de coragem. Entrei e sentei-me perto dela, com uma cadeira vaga entre nós, e dei os bons dias.

E ela respondeu um bom dia sorridente.

Milagre!!!

Quebrou o gelo, e eu consegui quebrar a minha introversão.

Eu fiquei gago, não saia mais nada da minha boca, com medo de que as minhas palavras saíssem tortas e matassem aquele momento mágico.

A pouco e pouco fomos finalmente falando. Conversa fútil sobre o tempo, as noticias da tv, e mais um cem numero de futilidades.

Verdade se diga que eu achava que acabaria por ter um enfarte, ao escutar a sua voz, aquela voz muito doce mas firme, aliada ao seu cheiro amendoado. A imagem das suas mãos que de tão pequenas mais pareciam; as mãos de uma criança.

Mas nada disso aconteceu, e quando resolvemos pagar a despesa e sair, foi o maior choque do mundo para mim. Ai ele perguntou-me:

“João! Tens alguma coisa contra mim?”

Eu fiquei atônito, e acho que avermelhei bastante, antes de responder, meio a gaguejar:

“Não!”

Então ela com a maior das calmas do mundo, deu-me um imenso beijo nos labios, e olhando bem no fundos dos meus olhos, disse:

“Então, porque não falavas comigo, eu não sou um bicho do mato!!!”

O mundo desabou, caiu aos meus pés!

Acabei por a acompanhar em silencio até ao Externato. Não conseguia falar. Nada saia da minha boca em termos de som. Só a sua companhia, aquele seu beijo especial, escutar a sua voz, sentir que estava ali perto de mim, á distancia de um ou dois palmos, era tudo.

Não fui a mais nenhuma aula nesse dia. Fugi!

Nem eu sabia para onde ir, só queria correr, gritar, fugir sem destino!

Acho que acabei por andar km pela praia, caminhando sem nexo, só para caminhar e ver a imensidão da água ali.

Nos dias seguintes passei a ser oficialmente admitido no grupo, e não mais deixei de compartilhar os seus sonhos e ambições pessoais.

Agora chegava muito mais tarde a casa. Tinha a tarefa diária de a acompanhar, até á estação ferroviária do Barreiro- A, e ali ficar a conversar sem olhar para o relógio até que o comboio para o Penteado-Moita, resolve-se ali parar e acabar com o meu autentico sonho real diário. Claro que eu sonhava sempre com a possibilidade de um esquecimento do maquinista, e que a composição fosse direta até á estação do Lavradio, para assim eu prolongar infinitamente o tempo.

Cheguei a apanhar o comboio e ir até ao Penteado e regressar mais tarde, só para ter o prazer de mais 30 minutos de deslumbramento.

Foram dias, semanas, meses de profundo conhecimento mutuo. Muitas vezes a Ana e a Isabel faziam companhia, até porque a Ana morava nessa época em Alhos Vedros e apanhava o mesmo comboio, mas nós ficávamos a conversar ou apenas a trocar sinais que parecia que á anos e anos conhecíamos a intimidade de cada um em termos de sensibilidade, que para nós estarem ali elas ou não, era igual, pois sabíamos que éramos só, mesmo só nós, o resto era paisagem.

Eram sonhos, e mais sonhos, projetos e mais projetos, era uma constante ambição de construir a vida á medida dos nossos sonhos e ambições.

Rir era a nossa melhor arma, muitas vezes como as crianças felizes. Descobri que podem existir almas gêmeas.

Depois eram as festas os concertos, a alegria naquela época era tão simples, bastava estarmos juntos. Para mim naquela época a vida era assim como se tivesse sido encarnada por outra pessoa que comigo compartilhava essa mesma vida, eu sentia-me tão grande que achava poder ser dois num só corpo, tal a auto – grandeza, a enormidade que sentia.

Posso sem vergonha alguma ou qualquer duvida assumir que estava deveras apaixonado.

Eu vivia os exames dela como se fossem os meus.

As suas alegrias e tristezas, era uma simbiose de sentimentos e emoções que eu achava que nada nem ninguém poderia fazer terminar nunca.

É assim que passam todos aqueles anos, como se eu não sentisse o tempo passar.

Aconteciam coisas incríveis que ainda hoje, agora neste preciso momento em que escrevo e olho para a lua cheia aqui em cima da minha cabeça, me pergunto porque será que nós na vida temos alguns momentos tão felizes, mas que acabam, quando deveriam ser intermináveis.

Nem a lua nem ninguém consegue responder, porque na verdade fomos nós que os vivemos e não voltam mais.

Até mesmo a morte de Elis Regina ocorrida naqueles anos, e sofrida por nós dois, como se fosse um familiar que partia, fazia parte dos poucos momentos que de tristes nos estranhamento tornávamos felizes, ao passar horas a escutar o que aquela mulher nos deixou de belo com o seu canto,

Ao longo da nossa vida temos, por vezes, dias inesquecíveis, com ela, com a Dulce eu felizmente tive muitos, no entanto gostaria de ter tido muitos mais, tantos que nem fosse possível contar quantos.

Pela ironia, pela verdadeira ironia de todos os acontecimentos desses dias, muitas deles, quase dignos de um filme de Woody Allen. Não posso esquecer o dia em que fomos ao espetáculo “Febre de Sábado da Manhã” no saudoso Estádio José de Alvalade.

Nesse época, eu era atleta do Sporting, o atletismo já era pois o tamanho do coração não permitia mais, mas praticava xadrez federado,  e pertencia á equipa de juniores oficial do clube, e como na 6ª feira tinha treino obrigatório na Secção, resolvi dormir no Centro de Estagio de Alvalade. Bom, dormir é o termo utilizado, quando na realidade eu passei a noite na ‘rebaldaria’ com os meus amigos lá do Centro de Estagio, uns do futebol, outros da ginástica e outros ainda, meus velhos conhecidos do atletismo, e assim a noite acabou por passar com uma direta, sem pregar olho, os bilhetes para o espetáculo estavam á muito esgotados, mas eu como atleta do clube, tinha conseguido os tão almejados 4 ingressos, um para mim, outro para a Dulce e outros dois um para a Ana e outro para a Isabel.

Assim pela madrugada; liguei para a Dulce, para confirmar os bilhetes e combinar a hora e o local de encontro, que seria o preciso momento da abertura das portas, 08.30 horas, junto dos portões do estádio que davam acesso ao setor da central. Dessa forma eu nem teria que sair de dentro do estádio, e assim lhes entregava os bilhetes pelos espaços da vedação, para assim poderem entrar.

Á hora marcada, elas lá estavam, e posso garantir que até hoje não recordo ver ninguém tão feliz com a entrada num local para assistir a um espetáculo como naquele dia a Dulce, ela pulava de alegria, irradiava alegria por todos os poros, saltava quase para o meu colo, uma imagem impressionante de vivacidade e alegria. Mais parecia uma criança grande…

Ela queria muito ir assistir aquele espetáculo, e perante a ameaça de bilhetes esgotados e um sonho desfeito, aquilo era uma bomba de adrenalina na sua alma, daí tanta alegria.

Passamos a manhã vendo desfilar bandas e cantores que naquela época faziam as alegrias dos jovens daqueles tempos, como a Adelaide Ferreira, Trabalhadores do Comercio, Táxi, Lena de Água e a Banda Atlandida, Heróis do Mar, Ficher X, e tantos outros que o Julio Isidro tinha conseguido reunir naquele espetáculo único.

Fomos depois almoçar, e nunca mais vou também esquecer esse almoço, tanto pela positiva como pela negativa. Solicitamos sandes de carne assada com refrigerantes, acabaram por nos servir umas sandes em que a carne vinha crua, mesmo em sangue, e eu reclamei. As sandes voltaram para a copa para serem colocadas como deveria ser. Acabaram por voltar no mesmo estado, eu voltei a reclamar e novamente a situação se repetiu. Ai eu acabei fazendo um escândalo, á minha maneira, fui á rua buscar um policia porque se recusavam a apresentar o livro de reclamações. E finalmente enquanto elas falavam com a autoridade eu para concluir fui ao WC e urinei toda a casa de banho, depois chamei o policia para observar o estado do WC, que muito embora eu tenha agravado a sua situação, não estava de forma alguma em condições apresentáveis, tal a sua imundice.

De tal forma a reclamação foi feita que passado algum tempo, após a vistoria a que deu resultado a nossa reclamação, a casa “Pomona”, na Rua da Prata em Lisboa, foi obrigado a encerrar para proceder a profundas reformas para solucionar problemas estruturais com que vinha até então funcionado.

Claro que acabamos aquele almoço noutro local, e decidimos ir ainda ao cinema, ao velho e saudoso São Jorge, ali na Avenida da Liberdade.

A decisão era ir ver um filme que demorava mais de quatro horas, “Voando Sobre Um Ninho e Cucos” de ‘Milos Forman’, com o imprescindível Jack Nicholson no desempenho principal.

Eu estava a cair de sono e claro extenuado de cansaço, mas como resistir em não ver o meu ator favorito até aos dias de hoje, e ao mesmo tempo fazer a vontade pessoal aquele poço sem fundo de energia e alegria, que era a Dulce. Impossível!

Lá fomos então, e para mal dos meus pecados eu não resisti e acabei adormecendo no ombro de uma senhora que estava sentada ao meu lado.

Depois, contaram-me que, foi o delírio em termos de risota, mas que a senhora se apercebeu do meu cansaço real, e disse para ninguém me acordar. Para ela não tinha qualquer problema, talvez porque eu nessa época ainda não ressonava, se fosse hoje, teria por certo sido colocado fora da sala de cinema!

Eu acabei dormindo praticamente todo o filme incluindo os dois intervalos que o compunham, e nada nem ninguém me fez acordar. No final lá me conseguiram fazer acordar perante a galhofa geral, e a minha caricata figura ao observar a minha situação encostado ao ombro da senhora, bem como as minhas mais variadas e esfarrapadas tentativas de lhe pedir desculpa.

Como sempre, com aquele grupo, os filmes eram posteriormente minuciosamente estudados e discutidos. Eu nesse caso fazia figura de parvo, pois ao levar todo o filme a dormir, como o poderia discutir, se não tinha visto rigorosamente nada.

No dia seguinte voltei a Lisboa e comprei entradas para duas sessões, e assim passei quase todo um dia no cinema, a ver o mesmo filme, em duas sessões seguidas. A verdade é que eu gostei tanto desse filme, que embora não seja o meu favorito, esta no lote dos de que mais gosto até hoje, e já o devo ter revisto bem mais de uma dezena de vezes.

Assim fiquei habilitado a poder discutir as vivencias do manicômio, e as diversas questões sociais e filosóficas levantadas ao longo do filme.

Aquele sábado foi um dia foi maravilhoso. Não porque tenhamos estado sós, mas porque comungávamos de muitas coisas que nos faziam simplesmente felizes. Era um Sábado igual a muitos outros em que vivemos os mais inesquecíveis momentos que se podem viver num sábado, por dus pessoas apaixonadas.

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